Todo começo de Campeonato Brasileiro é a mesma história. “Treinador do time X é demitido”, “Treinador sai do cargo logo depois de ser prestigiado pela diretoria”. Ontem foi Roger Machado, que caiu depois de perder por 5 a 3 do Flamengo. Depois da próxima rodada será outro provavelmente.
Apenas sete times da Série A não fizeram uma troca em 2020. Tirando o Flamengo, que perdeu seu técnico sem ter culpa, todos os outros decidiram mudar, no meio de um ano com pandemia e 4 meses sem futebol, por resultados decepcionantes. A verdade é que todo treinador no Brasil tem um alvo no peito, tirando Renato Gaúcho no Grêmio, que é um ídolo há quatro décadas e aproveita esse status.
Falar que a culpa é dos dirigentes é fácil. E certo. Mas não é só isso.
Vasco é um caso a ser estudado
O time do Vasco não é dos melhores no Brasil. Não estou sendo anti-vascaíno ao falar isso. mesmo assim está em terceiro e ontem, com oito desfalques pelos motivos mais variados, foi até a Vila Belmiro e fez um jogo corajoso contra o Santos. Se expôs, é verdade, poderia ter perdido, mas empatou e teve chance para ganhar.
O trabalho de Ramón começa a ser perceptível. O time toca a bola, tem aproximação, sabe correr, não dá tanto chutão e consegue controlar o jogo mesmo contra equipes superiores, como é o Santos. Não se via isso com Abel Braga e nem com Vanderlei Luxemburgo, que fez um trabalho até decente na equipe em 2019.
Isso não quer dizer que o time é candidato ao título, porque ainda faltam peças e talento, coisas que fazem a diferença em 38 rodadas. Mas é um time que dá para ver jogar, que você termina o jogo e não sente que foi uma perda de tempo, coisas significativas no futebol brasileiro atual. O Vasco joga mais com um treinador no primeiro trabalho que com dois dos mais vencedores treinadores brasileiros.
Vamos para o Palmeiras
O Verdão joga de forma horrorosa. As entrevistas de Luxemburgo parecem feitas em uma realidade alternativa, onde seu time varia entre jogos espetaculares e partidas apenas muito boas. A verdade é que o título do Campeonato Paulista caiu no colo e o time nunca empolgou seus torcedores, apesar de ter uma folha salarial absurdamente alta.
Não adianta só falar que a culpa é da diretoria, seja mantendo ou demitindo Luxa. O veterano técnico também tem que ser culpado, porque não só todo e qualquer conceito de futebol moderno está ausente no Allianz Parque, como ele ainda vai te dizer que tudo que é feito hoje ele já fazia 20 anos atrás. Se você vê o time de Jurgen Klopp jogar, o que é praticado pelo Palmeiras parece ser outro esporte.
“Ah, com uma seleção é fácil”.
Então vamos lá: tudo o que Marcelo Bielsa faz com o Leeds United, Gasperini faz com a Atalanta e Jurgen Nagelsmann fazia com o Hoffenheim, e agora com o RB Leipzig, parecem outro esporte.
Não é só uma questão de dinheiro, até porque o Palmeiras não joga contra o Bayern e a Juventus. Aqui o time alviverde é o rico, favorito na maioria dos jogos pelas odds da Betfair e tem a obrigação de dominar ou pelo menos propor algo diferente.
Eu entendo que um treinador brasileiro precisa ser mais conservador e pedir para seu time fazer cera e recuar quando vence porque três resultados ruins significam demissão. O problema é quando o futebol ruim se estende por semanas e o torcedor não entende o que aquele catado em campo faz nos treinos.
Treinador ruim não é um “privilégio” brasileiro. Com Jesualdo Ferreira o Santos tomava gol de cabeça todo jogo, teve atleta expulso em três partidas seguidas, foi eliminado pela Ponte Preta e semana cheia de trabalho não resultava em coisa nenhuma. Claro, o Santos não é um timaço e a diretoria é pavorosa. Mas Cuca chegou, e olha que ele está longe de ser gênio, e a equipe começou a jogar muito melhor.
As nossas diretorias de futebol são uma pior que a outra, com poucas exceções. Mas os treinadores brasileiros não fazem questão de mudar. Os salários estão pingando, se você é demitido hoje pode ser contratado amanhã e muitos clubes pagam treinadores que nem estão trabalhando. Eles também precisam ser cobrados.
Especialmente quando vêm defender reserva de mercado, dizer que são desrespeitados e que o Brasil é pentacampeão do mundo e por isso tem que ser referência. A representação fiel do futebol brasileiro hoje não é Neymar em campo pelo PSG e sim as partidas horrorosas do Campeonato local. A cada chutão de zagueiro, goleiro fingindo contusão quando seu time é pressionado e meio-campista que só toca para trás, um garoto que podia torcer pro Fluminense vai querer ver o Manchester City.