Enquanto as coisas permanecem paradas, o melhor que podemos fazer é relembrar grandes momentos do passado recente do futebol brasileiro. Esta semana já fizemos um especial sobre os melhores jogadores sub-23 da atualidade, que você pode ler aqui.
O especial de hoje é um prato cheio para polêmicas, discórdia e eventuais insultos ao redator. A primeira coisa que vale lembrar, então, é que este artigo é opinativo e ter uma visão diferente é absolutamente natural. Assim sendo, deixe nos comentários sua própria preferência, que tal?
10. Grêmio 2017
Quem abre nossa lista é o campeão da Copa Libertadores de 2017, o Grêmio de Renato Portaluppi. Era um time que começou a temporada com muitas falhas e deixando o torcedor com a pulga atrás da orelha, ainda mais ao cair no Campeonato Gaúcho para o futuro campeão Novo Hamburgo ainda nas semis.
A redenção também não veio no Brasileirão ou na Copa do Brasil, competições as quais o time chegou bem longe, mas sem troféu. A glória estava reservada “apenas” para a Libertadores, competição que o Imortal conquistou com maestria.
O torcedor do Tricolor Gaúcho não vai se esquecer tão cedo de ver gente como Kannemann, Geromel, Luan e, talvez acima de todos, Everton Cebolinha jogando o fino da bola.
O time levantou a taça após vencer o Lanús nos dois jogos da final e, embora tenha parado no Real Madrid de Cristiano Ronaldo na final do mundial, perdida por 1×0, será sempre lembrado com muito carinho pelo torcedor. De longe, o melhor Grêmio do século XXI (até agora).
9. Corinthians 2015
O torcedor do Corinthians começou a temporada de 2015 passando muita raiva ao ver seu time eliminado no Paulistão pelo arquirrival Palmeiras nos pênaltis dentro da sua Arena. Não muito tempo depois, a eliminação precoce da Libertadores perante o insistente carrasco Guarani-PAR.
Depois dos traumas, porém, o que se viu foi uma temporada exemplar no Campeonato Brasileiro. Os primeiros jogos não passaram confiança, com quatro vitórias, um empate e quatro derrotas nas primeiras nove partidas. Dali em diante, porém, o Timão virou uma máquina de vencer, com 17 partidas de invencibilidade (sendo 12 vitórias), disparando na liderança.
Jogaços como o empate em 3×3 com o Palmeiras e a vitória de 4×1 sobre o Athletico-PR colocaram o clube paulista no caminho para o título, que ainda seria comemorado com uma goleada épica sobre o rival São Paulo por 6×1. Campeão, o Corinthians de Cássio, Gil, Jádson, Vágner Love, Malcom e tantos outros ficou no coração do torcedor.
8. Internacional 2006
Se tem um time que o torcedor Colorado pode falar que deixou saudades, é aquele de 2006. Antes de falar das glórias, porém, é preciso falar do que foi a temporada como um todo e do elenco construído pelo técnico Abel Braga, que contava com nomes que agora inspiram puro respeito e saudades: Clemer, Tinga, Alex, Rafael Sóbis no auge e o saudoso Fernandão, além de um moleque de 16 anos que ninguém conhecia chamado Alexandre Pato.
A temporada começou com derrota para o Grêmio na final do Gauchão e o trauma da perda do título brasileiro de 2005 (cercado de polêmicas) para o Corinthians ainda bem vivo na memória. O time a ser batido, porém, era o São Paulo, campeão da Libertadores e do mundo, e foi isso que o Inter fez.
Embora o Tricolor Paulista tenha levado o Brasileirão (o Inter ficou com o vice), a final da Libertadores colocou, de novo, dois brasileiros frente a frente. Em dois jogaços, o Colorado venceu o São Paulo no Morumbi na ida e segurou um 2×2 suadíssimo no Beira-Rio – com o time paulista pressionando até o último instante por um gol que renderia o bicampeonato. Não deu, e os gaúchos ficaram com a taça.
Para sacramentar de vez a temporada de pura glória, o Inter chegou no Mundial da FIFA passando pelo Al Ahly, com gols de Pato e Luiz Adriano e, na grande final contra o todo-poderoso Barcelona de Ronaldinho Gaúcho, revelado pelo arquirrival Grêmio, ganhou de 1×0 com gol de Adriano Gabiru, naquele que é o momento mais precioso da história vitoriosa do Internacional de Porto Alegre.
7. Santos 2002-2003
Os mais jovens que ouvem falar do veterano sumido Robinho e de Diego, vitorioso meia do Flamengo, talvez não saiba que eles compunham aquela que foi a dupla que mais encantou no futebol brasileiro na transição de era mata-mata para pontos corridos do Brasileirão.
Nem só de Robinho e Diego vivia o Peixe naquela época, porém. Grandes nomes do elenco santista estavam vivendo momentos de inspiração, entre eles o controverso goleiro Fábio Costa, Renato e um também jovem Elano, comandados por Emerson Leão.
O time do Santos, porém, começou a temporada como absoluto azarão, tendo feito um Campeonato Brasileiro para esquecer em 2001 e um Torneio Rio-São Paulo (lembra?) absolutamente medíocre. Ainda assim, a redenção viria na hora certa.
Naquele que foi o último Campeonato Brasileiro de mata-mata, o Santos beliscou uma vaguinha para a fase final como quem não quer nada – empatado em pontos com o Cruzeiro. A situação era dificílima para o Peixe, que tinha uma chance minúscula de classificação, dependendo não só de si próprio, como do resultado de outros três placares, que miraculosamente aconteceram.
No mata-mata, o Santos derrubou o rival e favorito São Paulo, que havia liderado a fase anterior com autoridade, bateu o Grêmio sem sustos e foi encarar o Corinthians na grande final. As finais, em dois jogos, aconteceram ambas no Morumbi transbordando de gente, imagem que santista nenhum esquece.
Depois de vencer o rival por 2×0 na ida, o Santos entrou tranquilo no Morumbi para conquistar seu primeiro título nacional desde a era Pelé, em 1968. Foi nesse de volta que Robinho fez suas famosas pedaladas para cima do zagueiro Rogério, do Corinthians, lance que originou o pênalti do primeiro gol santista. O Peixe venceu por 3×2 e o resto, assim como o time em si, é história.
6. Cruzeiro 2003
O Cruzeiro atualmente é um gigante ferido, amargando a segunda divisão e uma crise que parece não ter fim – o que não muda o fato de a Raposa ser um time muito vitorioso e responsável por alguns dos melhores times do futebol brasileiro do século. São grandes elencos, mas dificilmente algum supera o Cruzeiro da Tríplice Coroa, de 2003.
A temporada começou com o time, comandado por Vanderlei Luxemburgo, ganhando o Campeonato Mineiro invicto, com 10 vitórias em 12 jogos. O mesmo aconteceu com a Copa do Brasil, com o Cruzeiro vencendo o Flamengo na grande final. Já eram dois títulos na mesma temporada, mas o time mineiro queria mais.
Naquele que foi o primeiro Brasileirão de pontos corridos, a Raposa deu show, chegando aos 100 pontos (eram 24 times, lembrando), vencendo 31 jogos com maestria.
O time que contava com os astros Gomes, Alex, Cris, Maldonado, Zinho e tantos outros acabou campeão vencendo o Paysandu por 2×1 diante de um Mineirão lotado com mais de 70 mil torcedores. Sem dúvida, um dos momentos mais mágicos da história da Raposa até hoje.
5. São Paulo 2006-2008
No meio dos anos 2000, não existia time que metesse mais medo em qualquer outro do que o São Paulo. Campeão mundial logo antes, em 2005, o Tricolor não apenas curtiu sua glória, como elevou o patamar e fez algo que ninguém até hoje conseguiu repetir no Campeonato Brasileiro moderno (pós 1971): ser tricampeão.
O trabalho iniciado por Leão e Paulo Autuori em 2005 foi mantido com maestria por Muricy Ramalho nos três anos seguintes – esse é o único caso em que falaremos de três temporadas distintas de um time no mesmo bloco, já que o São Paulo, embora as naturais mudanças pontuais de elenco, manteve sua espinha dorsal entre 2006 e 2008.
Embora muita gente do título mundial tenha ido embora, nomes poderosos como Rogério Ceni, Mineiro, Lugano, Josué, e Aloísio estavam todos lá em algum momento. A questão é que, tirando Ceni, ídolo máximo de qualquer são-paulino, o time não tinha um grande ídolo, e era do equilíbrio e no “trabalho, meu filho” de Muricy que vinha o sucesso.
A cada tropeço do time em alguma outra competição, vinha uma resposta em forma de troféu brasileiro. Perdeu a final da Libertadores em 2006? Foi campeão brasileiro. Caiu cedo demais para o Grêmio em 2007? Campeão brasileiro de novo, com folga na liderança e uma defesa de dar inveja. Eliminado de Paulistão e Libertadores de novo em 2008? Campeão brasileiro de novo, fazendo parecer fácil.
Fácil não é, se não alguém já teria repetido o feito. Estamos no aguardo.
4. Santos 2010-2011
Menos de 10 anos depois da geração mágica de Diego e Robinho, o Santos surgiu com novos garotos que faziam o queixo de geral cair. A diferença entre os dois elencos é que o de 2002 ganhou o Brasil. O de 2011 ganhou as Américas.
Claro que estamos falando do Santos de Neymar e Ganso, mas não só deles. Nem parece que já faz 10 anos, mas…Pois é, faz 10 anos que vimos os então garotos Neymar Jr. e Paulo Henrique Ganso num elenco que ainda tinha Elano, Arouca e outros grandes nomes da história recente do Peixe.
2010 foi um grande ensaio, podemos dizer. Se 2009 foi o ano em que Neymar foi apresentado ao mundo, com apenas 17 anos, em 2010 ele despontou como novo astro do Peixe, principalmente depois de faturar o Paulistão em cima do Santo André numa final épica.
Ganhar Campeonato Paulista, porém, dificilmente coloca um elenco na eternidade. Agora, ganhar Libertadores depois de quase 50 anos é outra história, e foi isso que o Santos de 2011 fez. Depois de passar por um grupo difícil e encarar América-MEX, Once Caldas-COL e Cerro Porteño-PAR, o Santos chegou à finalíssima contra seu velho rival uruguaio Peñarol – só faltava os Beatles tocando na arquibancada para ser mais anos 60.
O Peixe foi lá, segurou um 0x0 no Estádio Centenário de Montevidéu e, diante da sua torcida, no Pacaembu, encerrou o jejum após Neymar e Danilo fazerem os gols da vitória por 2×1. Os dois garotos, Neymar e Ganso, foram para o mundo, e aquele time ficou para a história.
3. Corinthians 2011-2012
Abrindo nosso pódio, escolhemos o último campeão mundial brasileiro, o Corinthians de 2012, mas sem deixar de citar o time que foi campeão brasileiro no ano anterior e serviu de base para o sucesso na temporada seguinte.
Sob a batuta do técnico Tite, já experiente, mas longe de ser um técnico aclamado, o Corinthians finalmente voltou a figurar entre os concorrentes de grandes títulos – ainda mais depois do trauma do rebaixamento de 2007. Em 2011, então, o Timão voltou a levantar um título nacional, mas a glória mesmo viria no ano seguinte.
11 a cada 10 corintianos vão confirmar que 2012 foi o melhor para o time (e, muitos, para suas vidas). Não é segredo que, até então, conquistar a Libertadores era mais do que um objetivo – era uma obsessão. Sendo o único dos grandes paulistas sem o troféu continental, o clube havia tomado a conquista como meta há anos, sendo eliminado de maneira duríssima especialmente 1999, 2000, 2006 e 2010.
Depois de faturar o Brasileirão, então, o time voltou sua atenção 100% para a Liberta, e jogou para vencer desde o primeiro minuto. Tendo passado invicto por todos os adversários e enfrentando duelos épicos como aqueles contra os brasileiros Vasco e Santos, o Timão se viu na final contra o gigante Boca Juniors.
Um empate por 1×1 em La Bombonera abriu caminho para a saborosa conquista na eterna casa não-oficial do clube alvinegro, o Pacaembu, que viu Emerson Sheik fazer os dois gols e desentalar o grito de tantos anos da garganta do torcedor. De “brinde”, um título mundial sobre o Chelsea sacramentou nomes como Cássio, Paulinho, Liedson e Paolo Guerrero no hall da fala eterno do Corinthians.
2. São Paulo 2005
Já falamos do São Paulo mágico de 2006 a 2008, tricampeão brasileiro, mas nossa medalha de prata vai ficar com o time Tricolor de 2005, campeão da Libertadores e Mundial. Com um elenco que entrou para a história e é lembrado por torcedores e rivais até hoje, é tranquilamente um dos melhores de todos os tempos no Brasil.
Muita gente sabe escalar aquele São Paulo de cor: Ceni; Cicinho, Fabão, Edcarlos, Lugano e Júnior; Josué, Mineiro e Danilo; Amoroso e Aloísio.
Antes do tri brasileiro, o São Paulo comandado então por técnico Paulo Autuori fez história ao superar o time de Raí de 1992. Em 2004, o Once Caldas virou um balde de água gelada no Tricolor, mas em 2005 não teve quem segurasse.
Depois de uma campanha excepcional, com um time que era soberano no Morumbi e assustava fora de casa também, o São Paulo passou com 100% de aproveitamento dentro de casa até chegar na final, onde aguardava a sensação do momento Athletico-PR. Depois de um 1×1 dramático na Arena da Baixada, o Tricolor Paulista bateu o Furacão por 4×0 no Morumbi sem nenhuma dificuldade.
A glória já havia chegado, mas aquele time do São Paulo queria mais. Foi até o Japão encarar o Liverpool de Gerrard, campeão da UEFA Champions League, e lá bateu os Reds por 1×0, com gol de Mineiro, no jogo que colocou Rogério Ceni e tantos outros para sempre no rol dos deuses são-paulinos.
1. Flamengo 2019
A medalha de ouro vai para o time que não apenas o melhor da atualidade, o que é consenso, mas sim do século.
O Flamengo de 2019, comandado pelo Mister Jorge Jesus, é o Flamengo que faz o torcedor comparar com 1981 e 1982. É o Flamengo que, depois de anos de fila incômoda, calou a boca de todo mundo e, montando um timaço que jogou de igual para igual com o Liverpool, um dos melhores elencos de todos os tempos.
A temporada começou inspirando respeito com o título carioca, mas ele passa quase despercebido quando começamos a falar de Brasileirão e Libertadores. O título nacional veio depois de 10 anos de jejum e de forma justa. Vamos combinar: o Flamengo assumiu a liderança no final do primeiro turno e nunca mais saiu, tendo perdido apenas quatro jogos no campeonato inteiro.
Devidamente sagrado campeão brasileiro bem adiantado, todo o foco foi para a Libertadores, onde Gabriel Barbosa, Bruno Henrique, Arrascaeta e tantos outros entraram de vez para a história do Rubro-Negro.
O jogo mais difícil foi o das oitavas, contra o EMELC-EQU, que foi decidido nos pênaltis. Dali em diante o Flamengo se impôs, vencendo os rivais brasileiros Inter e Grêmio, até chegar na final.
O então campeão River Plate aguardava para defender o título, o que conseguiu até os 43 do segundo tempo, quando Gabigol sacramentou seu nome entre os ídolos flamenguistas da eternidade, virou o jogo em três minutos e devolveu ao Flamengo o seu devido lugar: o de gigante do mundo.