Quem vê só os resultados brutos não dirá que o Barcelona está em uma encruzilhada. Nos dois últimos anos o time venceu o Campeonato Espanhol em ambos, bateu na trave na Europa caindo nas quartas e nas semis respectivamente e ainda tem uma Copa del Rey para chamar de sua.
Quem quer ver mais de perto terá outra análise. Um time sem inspiração coletiva depois de ensinar o mundo a como jogar com 11. Eliminações pavorosas na Champions League, vencendo os jogos de ida por 4 a 1 e 3 a 0 (Roma e Liverpool respectivamente) e perdendo os de volta por 3 a 0 e 4 a 0.
A base do Barcelona, que foi a espinha dorsal do time na era Guardiola, sumiu dos profissionais nos últimos anos e estamos chegando à reta final da Era Messi.
Não precisamos fazer agora uma análise do futuro do Barcelona, se ele inclui Neymar ou não, por exemplo. Para 2020, esse time tem salvação?
Será na base do brilhantismo
Quem vê o jogo do Barcelona hoje nota a extrema dificuldade da equipe criar e ter uma ideia de jogo coletivo. O resultado da partida é definido pelo que Messi pode fazer ou não e gênio como é, isso é suficiente muitas vezes.
Por isso é difícil criticar Griezmann ou esperar que Ansu Fati tenha consistência. Dembele é um buraco mais embaixo.
O Barcelona tem talento individual para chegar longe e por isso, na Betfair, é o terceiro na lista de favoritos para ser campeão da Champions League, pagando 6 para 1.
Mas os dois que estão à frente – Manchester City e Liverpool – podem vencer a partida se Salah ou Sterling não estiverem iluminados. O Barça não tem esse luxo.
E isso ficou evidente em Anfield em maio de 2019. Jurgen Klopp encaixotou Messi e seu time jogou com uma intensidade absurda, enquanto o Barcelona simplesmente não tinha alternativas. O Liverpool precisava de um 3 a 0 para ir aos pênaltis e fez 4. Se precisasse fazer 7, era capaz de ter saído com um 8 a 0.
O poder de fogo com Messi, Suárez e Griezmann é suficiente? Com os dois sul-americanos e Neymar no lugar do francês, foi. Ninguém se lembra do sensacional jogo coletivo daquele Barcelona e sim do seu talento fora do comum.
Parece que é isso que acontecerá?
Não. A derrota na Supercopa espanhola é só mais um capítulo de futebol pobre. Tudo bem você não acreditar que um jogo na Arábia Saudita diga muita coisa, mas pegando ela mais o 0 a 0 contra o Real Madrid e até a vitória contra o próprio Atlético são significativas.
No jogo contra a equipe de Simeone, Ter Stegen – o segundo melhor jogador do time na temporada – fez duas defesas inacreditáveis e aos 40 minutos do segundo tempo, Messi decidiu.
Um clube normal pegaria os três pontos e sairia feliz. É curioso que o Barcelona, que sempre se impôs um sarrafo muito mais alto, de vencer, convencer, jogar bonito e influenciar o futebol mundial, esteja neste momento pensando nos três pontos.
E claro que nem todos estão felizes. Rivaldo já apontou suas armas para Ernesto Valverde nesta quinta. O treinador parece que levará a culpa mesmo, mas obviamente ele não é o único culpado. Já se comenta em Xavi para ser o treinador para a próxima temporada.
O pós-Guardiola e Joan Laporta (presidente) é horroroso para o clube, com escolhas erradas de treinador, base que desapareceu, contratações a la Galácticos e até prisão de presidente.
Diz muito sobre Messi que mesmo com todos esses erros do seu clube, ele tenha mantido o desempenho do futebol no topo do país e da Europa.
Quem ainda fala que Cristiano Ronaldo é mais “corajoso” porque troca de equipes e aceita desafios deveria rever esse argumento: é mais valioso ficar em um clube faça chuva ou faça sol e manter o nível enquanto coisas desmoronam à sua volta ou pular de time endinheirado em time endinheirado para não ter que passar por uma entressafra como a que o Real Madrid encara agora?
Para a Betfair o Barcelona é favorito para conquistar a Copa do Rei (2,7 para 1 contra 3,6 para 1 do Real Madrid) e também o Campeonato Espanhol: 1,53 contra 2,6 do Real Madrid. O time deve levantar um caneco neste ano. Mas as coisas não estão bem em Barcelona.