Não fazer gol fora de casa quando existe o gol qualificado é sempre um mau negócio. Até o 0 a 0 é ruim, porque na volta, um gol do rival obriga a vitória, já que o empate é de quem fez o gol fora de casa. Mesmo assim, uma vitória simples para o Palmeiras na volta faria o 0 a 0 na Argentina ser esquecido. A situação era confortável na Copa Libertadores.
A equipe alviverde se defendeu bem por grande parte do tempo, isso é inegável. O Boca, assim como o River na noite de terça, parecia uma equipe abaixo tecnicamente do alardeado. Se Abila é jogador de futebol, eu sou um engenheiro espacial aposentado. Pavón, que foi para a Copa do Mundo, estava completamente sumido. Zarate não foi efetivo, a não ser dando algumas pancadas na marcação.
Só que do outro lado, a bola não saia de Felipe Melo e Bruno Henrique para Moisés, Dudu e Willian, os três sumidos. Borja então, foi a versão ofensiva de tomador de cafezinho, porque a bola mal chegou no feudo que ele estava, completamente isolado do jogo. E assim passou 65 minutos de jogo.
Mudanças de Schelotto mudaram o jogo
E aqui não é um elogio ao ex-atacante, um dos algozes dos times brasileiros na virada dos 90 para os 2000. Ele demorou imensamente para mexer. Com sua primeira, colocou Villa na direita e o time só passou a jogar por lá, tentando explorar as costas de Diogo Barbosa.
O problema é que Villa não ganhou uma no mano a mano, criando pouco mais do que zero.
Precisou Benedetto entrar para aí sim mudar a partida. E fazer todo mundo que estava no estádio, vendo pela televisão e ouvindo pelo rádio pensar: “que foto o Abila tem do Schelotto para jogar 75 minutos e o Benedetto só 15?”.
Não concordo tanto com quem aponta o erro de Felipe Melo no primeiro gol, mas gostaria de destacar que a falta, que originou uma cobrança incrível de falta e uma bela defesa de Weverton foi um pé alto completamente desnecessário do volante. Defesa do goleiro, escanteio, gol do Boca.
O segundo gol sim teve um vilão mais claro: Luan saiu para um combate completamente seco. Tudo bem que 99% dos atacantes que jogam na América do Sul dominariam de costas, fariam um pivô mequetrefe e pronto. Benedetto girou e chutou seco, à la De Bruyne contra o Brasil.
E agora?
Eu disse acima que 0 a 0 na partida de ida pode ser considerado um resultado ruim para os mandantes no segundo jogo. Dois a zero então nem se fala. Usando o exemplo claro do Cruzeiro, o time abriu 1 a 0, teve chances para fazer o segundo, mas em um contra-ataque perdeu qualquer viabilidade.
Um golzinho do Boca significa a necessidade de 4 do Palmeiras. Ou seja, é tudo que o time argentino quer: depois de tentar colocar velocidade no jogo e não ser bem sucedido até o fim, agora o Boca vai poder cadenciar e explorar o toque de Pablo Perez e a velocidade de Pavón.
Mas o mais preocupante é que o Palmeiras de Felipão, por melhor que tenha ido até ontem antes do jogo, nunca esteve nessa posição de inferioridade, precisando marcar. Sempre conseguiu marcar primeiro e depois cozinhar o jogo.
A única exceção também envolve o Cruzeiro: o time mineiro fez 1 a 0 na Arena na semifinal da Copa do Brasil e o Palmeiras jogou mal precisando criar contra um time oportunista e bem montado, tanto no resto da partida na sua casa como no Mineirão.
O Palmeiras tem um elenco qualificado – o que deixa o show de chutões e falta de criatividade nesta quarta ainda mais feio – e pode empatar o placar agregado ou até virar. Tanto é respeitado que na Betfair a vitória do Boca pagava mais que 2 para 1, número alto que indica que a casa de apostas não considerava improvável outro resultado.
Esse Boca está longe de ser como os que tinha Schelotto no ataque com Palermo e Riquelme municiando. Mas a situação ficou muito complicada. Tudo por cinco minutos de Benedetto e 90 minutos de estratégia errada.