O relógio apontava 43 minutos do segundo tempo quando Lucas Pratto clareou um defensor, segurou a bola e foi desarmado. Três minutos depois disso, o pior cenário pós-rebaixamento do River Plate se concretizou. E o Flamengo, exatamente 38 anos depois de vencer pela primeira vez a Libertadores, conquistou a segunda de forma inesquecível.
O Flamengo não jogou bem. Aliás, bota mal nisso. Mas Gabriel Barbosa foi contratado para fazer gols e ele virou Gabigol duas vezes no momento mais crítico possível. Ninguém vai lembrar do resto, ainda mais depois da festa que não tem hora para acabar no Rio de Janeiro e em todo o Brasil.
Mas como é nossa função, vamos à história do jogo. E ele com certeza entra na nossa próxima edição das melhores finais da Libertadores.
River domina, abre placar mas não mata
O primeiro gol veio logo: a bola parecia perdida na linha de fundo, mas um carrinho virou cruzamento, Borré aproveitou indecisão de Gerson e Willian Arão e chutou de primeira. 1 a 0 River Plate.
O Flamengo não conseguiu se adaptar a essa pressão. O recuo de Arão para jogar no meio dos zagueiros quando o time tinha a bola não garantiu uma saída rápida e bem pensada. Toda bola esticada para Gabriel e Bruno Henrique parecia ser vencida pelos argentinos, que continuavam chutando, mesmo que Diego Alves não tenha sido obrigado a ser gigante.
Quando o intervalo veio, os flamenguistas podiam respirar aliviados com o placar.
Mas o oxigênio é igual para todos
É impossível fazer aquela pressão por 90 minutos. E o River Plate voltou menos intenso para a segunda metade da partida. Gerson e Everton Ribeiro começaram a participar mais do jogo e Bruno Henrique conseguiu sair mais livre pela esquerda. Mas ainda sem a efetividade dos últimos meses.
O River continuou criando, mas as três substituições e as caras dos substituídos denunciavam: o time estava cansando a uma velocidade grande. Quando Pratto entrou, a esperança de Gallardo devia ser segurar a bola na frente e continuar impondo o ritmo. Não funcionou porque o meio-campo sumiu.
O do Flamengo seguia floreando as jogadas. Quando a equipe foi mais eficaz, Bruno Henrique escapou pela esquerda, cruzou, De Arrascaeta furou, Gabriel chutou e foi bloqueado por De La Cruz e a bola sobrou para Everton Ribeiro. O chute no canto foi defendido por Armani.
Quando chegaram os 10 minutos finais, Jorge Jesus continuou colocando o time para a frente. Gerson saiu lesionado e deu lugar a Diego. Vitinho entrou no lugar de Arão. Lincoln ia entrar no lugar de De Arrascaeta, uma das decepções da partida rubro-negra.
Mas eis que Pratto quis segurar a bola demais. O ataque foi rápido, como o River estava fazendo. Bruno Henrique achou De Arrascaeta, que cruzou para o meio. Gabigol, atrás da linha da bola, não teve trabalho quase. Jogo empatado aos 43 minutos do segundo tempo.
Se um time mais cagão furaria a bola para levar o jogo para a prorrogação, o Flamengo foi para o abate. Em bola pendurada Pinola tentou, de costas, recuar para Armani. Falhou. Tentou cabecear de novo. Basicamente ajeitou a bola. Gabigol, com sua perna esquerda abençoada no ano, não quis brincar. Virada em três minutos, título do Flamengo.
É incrível que exatamente na mesma data da conquista da América em 1981, o Flamengo entrou em campo e venceu de novo de forma tão icônica. Mais incrível ainda é se conseguir chegar na final do Mundial em poucas semanas para enfrentar o mesmo rival do Mundial em 1981, o Liverpool.
Mas não é preciso pensar nisso agora. Que a comemoração comece sem hora para acabar.