A final da Libertadores 2019 está logo aí, e promete ser uma das mais legais de todos os tempos, ao menos no que depender dos seus protagonistas, River Plate e Flamengo, e do momento do futebol de ambos.
Pensando nisso, resolvemos compilar dez das maiores finais da Copa Libertadores de todos os tempos, ou seja, desde os anos 60 até hoje. Óbvio que, entre quase 60 confrontos, escolher só dez é muito difícil e é bem provável que a favorita de alguns fique de fora. Se for o caso, deixe a sugestão nos comentários! Vamos lá?
10. Cruzeiro x River Plate (1976)
Lá nos anos 70, dois gigantes do futebol sul-americano se pegaram numa final que marcou época. Dois times que nunca haviam faturado o título chegaram na final querendo sair da fila, e quem conseguiu foi o Cruzeiro do técnico Zezé Moreira.
Decidido em três jogos por conta do regulamento da época, o troféu cruzeirense começou a ser conquistado dentro do Mineirão, quando a Raposa bateu o River por 4×1, com gols de Nelinho, Valdo e o ídolo Palhinha (2x). A volta, no Monumental de Núñez, viu o troco do River Plate por 2×1. A decisão ficaria para um terceiro jogo, em campo neutro.
Tal campo foi o Estádio Nacional de Santiago, no Chile, e foi ali que o bicho pegou. O Cruzeiro abriu 2×0 com Nelinho e Eduardo, mas o River buscou o empate em menos de dez minutos. Quando tudo apontava para uma decisão dramática por pênaltis, o ídolo da Raposa Joãozinho fez o gol do título, aos 43 do segundo tempo. Troféu para o Cruzeiro, único campeão brasileiro da Libertadores na década de 1970!
9. Vélez Sarsfield x São Paulo (1994)
Em nono lugar, colocamos um jogo triste para o torcedor do São Paulo, mas histórico para o futebol latino-americano. A derrota na finalíssima para o argentino Vélez Sarsfield, no Morumbi, marcou o final da era Telê Santana no Tricolor depois de dois títulos de Libertadores e uma história pra lá de vitoriosa. Mas, como se diz, todo carnaval tem seu fim, e o de Telê com o São Paulo veio na final de 1994, contra o argentino Vélez Sarsfield.
A partida de ida, na Argentina, acabou em 1×0 a favor dos donos da casa, que tinham como jogador-símbolo o goleiro paraguaio Chilavert. Aliás, o arqueiro sempre foi dos mais polêmicos, falou tudo e mais um pouco antes do jogo e prometeu pegar pênalti do ídolo são-paulino Palhinha.
A volta foi no Morumbi entupido com 90 mil torcedores. O São Paulo fez sua parte e correu atrás do resultado, abrindo o placar com Müller ainda no primeiro tempo. Chilavert, porém, segurou tudo e levou a partida para os pênaltis, onde defendeu a cobrança de Palhinha conforme prometido. O próprio goleirão paraguaio marcou de pênalti e derrotou o Tricolor por 5×3, que teve suas cobranças convertidas por André Luiz, Müller e Euller.
Chilavert foi eleito melhor goleiro do mundo no mesmo ano depois de seu time vencer o Milan na final do Mundial de Clubes e o atleta continuou como maior goleiro-artilheiro do mundo até que, ironicamente, um certo Rogério Ceni roubou o título…
8. Flamengo x Cobreloa (1981)
O Flamengo pode se tornar bicampeão da Libertadores, então nada mais justo do que falar sobre o primeiro título Rubro-Negro da história, lá em 1981, contra o Cobreloa!
Se falar da Seleção Brasileira de 1982 traz lágrimas ao torcedor até hoje, falar do Flamengo de 1981 para o torcedor rubro-negro não fica atrás. Era o Flamengo dos sonhos, de Zico, de Junior, das multidões ensandecidas. Segundo a CONMEBOL, os seis jogos do Flamengo na competição no Maracanã somaram mais de 500 mil espectadores, um recorde até hoje nunca superado na Libertadores. Isso dá noção do que era o que estava rolando.
No caminho até a final, o Urubu eliminou o Atlético-MG num jogo pra lá de polêmico e deixou para trás gente como Jorge Wilstermann e Deportivo Cali. Na final, aguardava o chileno Cobreloa. O primeiro jogo, na frente de 93 mil torcedores no Maraca, viu o Flamengo vencer 2×1, com dois gols de Zico. No Chile, troco do Cobreloa por 1×0.
A decisão ficou para um terceiro jogo, em campo neutro, e foi lá, no Estádio Centenário de Montevidéu, que o Galinho se tornou o maior ídolo flamenguista até hoje e camisa 10 da Seleção Brasileira do ano seguinte. Num jogo de cinco expulsões, Zico fez os dois gols da vitória por 2×0 e, com a braçadeira de capitão, levantou a taça mais importante da história do Flamengo, que ainda iria vencer o mundial em cima do Liverpool – coincidência?
7. Estudiantes x Cruzeiro (2009)
Até agora falamos de grandes jogos do período mais clássico do futebol, mas agora vamos para um relativamente recente, de apenas 10 anos atrás. Embora um grande jogo, emocionante até o último instante, o sabor na boca do torcedor cruzeirense ao falar daquela final é amargo, já que quem saiu com o troféu foi o Estudiantes, da Argentina.
Diante de 52 mil torcedores, o Cruzeiro segurou um ótimo 0x0 com os argentinos fora de casa. A decisão ficaria para o Mineirão, que foi lotado por 65 mil torcedores, de maioria esmagadora apoiando a Raposa, claro, mas que voltaram para casa de coração partido.
Precisando apenas de uma vitória simples, o clube mineiro passou o primeiro tempo em branco, mas abriu o placar com Henrique com seis minutos da segunda etapa. A festa cruzeirense, porém, durou pouco demais, já que Gaston Fernandez empatou quase que imediatamente. Num jogo quente e cheio de catimba, deu certo a pressão dos argentinos, que viraram o jogo em bola levantada pelo lendário Verón e cabeceada por Boselli. Mesmo com pressão absurda do Cruzeiro, que quase empatou com Thiago Ribeiro, o troféu ficou mesmo com o Estudiantes.
6. Boca Juniors x Palmeiras (2000)
O Palmeiras é um gigante das Américas há décadas, mas o time demorou para engrenar na conquista de títulos continentais. Depois de faturar o título da Libertadores de 1999, o Verdão chegou com moral demais na final de 2000, já no crepúsculo da gloriosa Era Parmalat, ainda mais tendo eliminado o arquirrival Corinthians nas semifinais. Tudo indicava para um bicampeonato dos sonhos, mas havia uma pedra no caminho, uma pedra chamada Boca Juniors.
O Verdão chegou favorito ou, ao menos, tão favorito quanto se é possível chegar contra o Boca, copeiro como poucos. A defesa do título palmeirense começou na Bombonera, e os donos da casa saíram na frente com Arruabarrena. Sem esmorecer, o Palmeiras foi lá e empatou com Pena, apenas para ver Arruabarrena colocar de novo o Boca na frente, no segundo tempo. Euller voltou a empatar e deu números finais ao jogo. A decisão ficaria para São Paulo.
No Morumbi lotado até a tampa, os dois times não saíram do 0x0 no tempo normal num jogo de arbitragem bem polêmica, gol mal anulado, pênalti não-marcado e nervos à flor da pele. Nos pênaltis, São Marcos não foi tão santo assim e não pegou nenhuma cobrança do Boca, que fez todos os gols e viu Asprilla e Roque Júnior desperdiçarem, se sagrando campeão pela primeira vez em 22 anos.
5. Grêmio x Peñarol (1983)
Se tivéssemos que escolher um único jogo para resumir o que é a Libertadores da América, talvez seja esse: sangue, suor e glória, sem eufemismos. O Grêmio de Renato Gaúcho ainda jogador foi lá e bateu um dos adversários mais tradicionais e cascudo das Américas, trazendo a primeira taça do torneio para casa.
Depois do Boca Juniors, que chegou em 11 finais, ninguém fez isso mais vezes que o Peñarol, gigante uruguaio e, na época, tetracampeão da Libertadores, inclusive atual campeão do momento e também do mundial de clubes. O Grêmio, por sua vez, passou pelo Flamengo, algoz do ano anterior no Brasileirão, e ainda derrubou pesos-pesados como Estudiantes e America de Cali até chegar à finalíssima.
O Peñarol era mais do que favorito, tendo vencido tudo e mais um pouco e, de brinde, eliminado o arquirrival Nacional nas semis. No jogo de ida, no Centenário de Montevidéu, 1×1 dramático com gol de Morena para os uruguaios e Tita para o Imortal – recém-comprado do Flamengo campeão brasileiro de 82, aliás.
A decisão ficou para o Estádio Olímpico Monumental, em Porto Alegre. Levando em conta que o Peñarol era meio que especialista em levantar troféus fora de casa, não havia lá muito favoritismo para o lado gremista. Dentro de campo, porém, foi uma verdadeira batalha. O Grêmio abriu o placar com Caio, mas viu o craque Morena empatar. No segundo tempo, Renato levantou a bola para César botar no fundo das redes e selar a vitória.
A imagem histórica, que você vê logo acima, é do capitão Hugo De León, ironicamente um uruguaio, levantando a taça com a cabeça coberta de sangue – coisa que ele só iria notar depois, no chuveiro, segundo o próprio. Libertadores é bem isso mesmo.
4. Internacional x São Paulo (2006)
Na maior parte dos anos 2000, poucos times dominaram o futebol brasileiro como São Paulo e Internacional. Assim sendo, nada mais justo e emocionante do que ver uma final de Libertadores entre eles. Campeão da Libertadores e do Mundial no momento, o São Paulo ainda chegaria ao tricampeonato brasileiro nos anos seguintes. Em 2006, porém, o Internacional desbancou o tricolor e ficou com a Libertadores.
Com gente como Rogério Ceni, Lugano, Josué, Mineiro de um lado e Clemer, Tinga, Rafael Sóbis e Fernandão do outro, ninguém esperava qualquer coisa que não fosse um jogaço. Sem medo do adversário, o Inter venceu a ida por 2×1, num jogo que teve Josué expulso antes dos 10 minutos de jogo e depois virou 10 contra 10, com Fabinho expulso também.
Na volta, no Beira-Rio, uma falha de Ceni permitiu ao Inter sair na frente com gol do falecido ídolo Fernandão. Muricy mexeu bem no Tricolor e o time chegou ao empate com Fabão, mas o troféu era para ser do Inter mesmo: Tinga, injustiçado naquele fatídico jogo contra o Corinthians que custou o troféu brasileiro ao Colorado em 2005, foi lá e colocou seu time na frente de novo.
Lenílson até empatou para os paulistas, mas não adiantou. O São Paulo pressionou até o fim e forçou Clemer a fazer milagre, mas o título ficou mesmo com Internacional, na última final entre clubes brasileiros da história da Libertadores até hoje.
3. River Plate x Boca Juniors (2018)
Chegando ao nosso pódio, nada mais justo do que começar com a última final, que finalmente colocou os arquirrivais argentinos River Plate e Boca Juniors frente a frente numa finalíssima, pela primeira e por enquanto única vez na história da Libertadores.
Levando em conta os envolvidos, a história dessa final não poderia começar de maneira diferente: com polêmica até não dar mais. O primeiro jogo, na Bombonera, aconteceu depois de um adiamento, e viu um empate dramático por 2×2, que deixava tudo em aberto, mas era vantajoso para o River Plate.
Dias depois, o ônibus do Boca foi apedrejado, houve brigas feias entre dirigentes, CONMEBOL, Deus e o mundo, e decidiu-se que a volta seria no Santiago Bernabéu, em Madrid. Benedetto colocou os Boca na frente, mas o River empatou com o talismã Lucas Pratto no segundo tempo.
O jogo acabou indo para a prorrogação, e lá ficou clara a superioridade do River sobre o maior rival, que tinha um jogador a menos, aliás. O primeiro período do tempo extra ficou sem gols, mas o Boca cedeu à pressão do adversário, que marcou com Quintero aos três do tempo final.
Desesperado, o Boca Junior se lançou ao ataque e, no contra-ataque gerado por um escanteio do Boca que até o goleiro Andrada foi para a área, Pity Martínez matou a partida e sagrou o River Plate campeão mais uma vez.
2. LDU Quito x Fluminense (2008)
Nosso segundo lugar fica por conta de outro jogo relativamente recente, e que também teve final triste para o lado brasileiro da disputa. Em 2008, o Fluminense teve sua grande chance de entrar no seleto rol de campeão da América, mas a LDU estava lá para impedir o feito, em dois jogos malucos, dramáticos e incríveis.
A ida, no Equador, parecia que seria um passeio dos donos da casa, que saíram na frente com dois minutos de jogo e, após cederem o empate, fizeram outros três gols, todos no primeiro tempo. O Flu descontou com Thiago Neves e a partida terminou num improvável 4×2, o jogo de final com mais gols desde 1993.
A volta foi no Maracanã, onde mais de 78 mil pagantes se espremeram para ver o que deveria ser o momento de glória suprema do Tricolor das Laranjeiras, mas que nunca aconteceu. Para choque geral, foi a LDU quem saiu na frente, ficando com um placar de 5×2 agregado a seu favor.
Pois o Fluminense não desanimou, foi lá e meteu três gols com o craque absoluto Thiago Neves. A expulsão de Luiz Alberto, porém, tirou um pouco do ímpeto ofensivo do Tricolor, que não conseguiu marcar o que seria o gol do título. A disputa foi para a prorrogação, na qual não houve mudanças no placar, e então para os pênaltis. Foi aí a desgraça.
Depois de abrir o placar nas cobranças, a LDU viu seu goleiro Cevallos defender três das quatro cobranças do Flu, incluindo de Thiago Neves. Com 3×1 a seu favor, o time de Quito se tornou o primeiro campeão equatoriano da Libertadores. No Maracanã, foi como se o silêncio e as lágrimas dos torcedores do Flu cobrissem a festa dos poucos torcedores da LDU. O sonho havia acabado.
1. Santos x Peñarol (1962)
Para nosso grande medalhista de ouro, resolvemos ficar na carne de vaca, mas sem nenhum demérito. Poucos dos que estavam lá vendo esse jogo ainda estão aqui hoje para falar sobre ele, inclusive os jogadores, mas os que ainda estão nunca vão se esquecer. Foi o primeiro título brasileiro da Libertadores, e foi do Santos, o Santos de Pepe, de Coutinho e, acima de todos, de Pelé.
O Brasil já era bicampeão do mundo em 1962, mas faltava aos clubes do país o devido reconhecimento. Este veio no mesmo ano, quando o Santos se tornou mais do que “o time do Pelé”, e sim um dos gigantes eternos do futebol mundial. O adversário, como não poderia ser diferente, era o maior da América na época: o bicampeão Peñarol, vencedor das duas únicas edições da competição até então.
Disputado em três partidas, a final teve a grandeza digna dos seus competidores e é, até hoje, a mais lendária entre todas da história da Libertadores. Em Montevidéu, 2×1 para o Santos com show de Coutinho, autor dos dois tentos. A volta, na Vila Belmiro, viu o troco do Peñarol, que venceu por 3×2 e impediu o Peixe de comemorar o título em casa com a torcida.
A decisão ficou para o campo neutro do Monumental de Núñez, em Buenos Aires. Foi em solo argentino que o Santos se impôs como verdadeiro e merecido campeão, vencendo pelo placar clássico de 3×0, com dois gols do Rei Pelé diante de 60 mil torcedores ensandecidos. O Santos, o Brasil e Pelé se tornavam, finalmente e para sempre, imortais do futebol.