É natural fazer críticas ao Campeonato Brasileiro pela sua qualidade técnica, especialmente quando os times ainda precisam se dividir entre duas ou mais competições, como acontece costumeiramente. Mas se há algo que quem acompanha o Brasileirão não pode reclamar é da emoção e equilíbrio que existe na competição.
Isso não é uma realidade das ligas europeias, por exemplo. O Paris Saint-Germain vai ganhar seu quinto título em seis anos na França. Na Alemanha, o Bayern vai se sagrar hexa seguido. O Barcelona tem tudo para levar seu sétimo título em 10 edições. E o Manchester City vai levar seu terceiro título de Premier League desde 2011/12.
No Brasil não só há uma grande rotatividade de campeões – desde 2000 são 10 campeões diferentes – mas ainda a classificação inteira costuma rodar de forma incrível, com grandes caindo para a segunda divisão e voltando com tudo, equipes que beiram a zona de rebaixamento em um ano e a vaga na Libertadores em outro e por aí vai.
E para este ano não espere algo muito diferente. Claro que a diferença no faturamento e planejamento nos últimos anos gerou uma vantagem para equipes como Palmeiras, Corinthians e Flamengo. Mas o clube carioca, por exemplo, está em meio a uma crise que fez o dirigente Rodrigo Caetano e o treinador Paulo Cesar Carpegiani saírem do clube. Mesmo assim, não há como não considerar o Flamengo favorito, já que o time tem vários jogadores acima da média, mesmo que em campo o encaixe ainda não tenha acontecido.
Isso não acontece com Corinthians e Palmeiras. Os arquirrivais, finalistas no Campeonato Paulista, tem duas das equipes mais fortes e bem montadas. O Corinthians, último campeão brasileiro, tem a força do elenco para compensar a falta de um jogador que seja unânime tecnicamente. O treinador Fabio Carille ainda busca alternativas para saídas como a do atacante Jô, um dos destaques do time na conquista em 2017. A chegada de alguns reforços pode ser o que coloca o Timão de um dos favoritos ao título para equipe a ser batida.
Hoje, esse status é do Palmeiras. O alviverde, campeão brasileiro em 2016, foi com o bolso cheio para as mesas de negociações, contratando Lucas Lima, ex-Santos, por exemplo. O time ainda trouxe Gustavo Scarpa, envolvido em um problema jurídico com o Fluminense e que atualmente não pode jogar pelos paulistas. Caso ele consiga sua liberação, o elenco do Palmeiras se torna ainda mais forte. Bem na Libertadores, uma eliminação no mata-mata pode complicar a moral da equipe no Brasileiro. Porque se for por elenco, não há desculpas: há peças para disputar os dois torneios com tudo.
Entre os times paulistas ainda há o Santos. Segundo colocado em 2016 e terceiro em 2017, o alvinegro praiano viu seus dois rivais de estado vencendo nacionalmente. O elenco pode ser um problema, já que o time também disputa a Libertadores e já não tem um banco qualificado. Porém é inegável que a equipe mais uma vez tem o talento para fazer uma boa campanha, começando pelo goleiro Vanderlei, que se não for o melhor do país, não está longe disso. Olho no garoto Rodrygo, atacante de 17 anos que já causou impacto no Paulista e fez gol na Libertadores, contra o tradicional Nacional do Uruguai, e pode ser a revelação do Brasileirão.
Já o São Paulo é a maior incógnita. O time já demitiu o treinador Dorival Junior, que salvou o tricolor do rebaixamento no Brasileiro em 2017 após um começo horroroso de torneio. Dorival não conseguiu fazer o time e seus novos reforços jogar bem e com três derrotas nos clássicos paulistas acabou caindo.
Para seu lugar veio o uruguaio Diego Aguirre e o começo de sua trajetória é positivo. O problema é que no São Paulo a inconstância é uma marca desde o time que foi tricampeão nacional seguido, em 2006, 2007 e 2008. Medalhões como Nenê e Diego Souza vão precisar jogar muito para o São Paulo brigar lá em cima, algo que hoje não parece o mais provável. A solução pode ser dar espaço para os jovens da base, algo que Aguirre já mostrou não ter medo de fazer. Com 38 rodadas de abril até dezembro, o time vai precisar rodar e depender só de experientes ou só da garotada é a receita para mais um ano abaixo da crítica.
Mesmo o São Paulo, que hoje é a maior dúvida paulista, está em uma situação menos complicada que os cariocas. O Flamengo tem obrigação de entrar como favorito, mas a situação atual não inspira confiança. O Fluminense começou o ano perdendo seus principais jogadores – Scarpa e Henrique Dourado, justo para o arquirrival Flamengo -, o Vasco tem um time aguerrido, mas com claras deficiências técnicas. E o mesmo pode-se dizer do Botafogo.
É o suficiente para sacramentar que os três times vão brigar contra o rebaixamento? Não. Vasco e Botafogo estavam em situações similares na temporada passada e o primeiro conseguiu vaga para a Libertadores. A diferença técnica entre os times que lutam para fugir das quatro últimas posições e os que brigam pelas vagas finais de Libertadores, ou então se sedimentam no meio de tabela, é muito pequena. Os quatro times do Nordeste – Sport, Bahia, Vitória e Ceará – e o América Mineiro, campeão da segunda divisão em 2017, podem se inspirar nesse equilíbrio e a possibilidade sempre em aberto de surpreender para fazer boas campanhas.
Voltando aos favoritos, Minas e Rio Grande do Sul também têm seus postulantes. O Grêmio, atual campeão da Libertadores, quer acabar com o incômodo jejum de mais de 20 anos sem um título brasileiro. Caso Renato Gaúcho permaneça – o Flamengo estaria interessado nele –, isso pode motivar o elenco a entregar o Brasileirão para seu querido treinador.
Já em Minas, o Cruzeiro não tem um jejum, conseguindo o bi em 2013 e 2014. Com um time muito diferente, Mano Menezes precisa provar que pode ganhar uma grande competição, já que ele ainda não tem um Campeonato Brasileiro ou Libertadores em sua conta. A lesão de Fred, maior artilheiro da historia do Brasileiro na era de pontos corridos, é um baque enorme. A Libertadores será fundamental para entender o Cruzeiro no torneio nacional: se o time conseguir fazer uma campanha boa, talvez não tenha força para desafiar os seus rivais nacionais. Caso caia logo, pode aproveitar a atenção deles nos gramados continentais.
Portanto estamos falando de cinco ou seis favoritos ao título, com alguns deles dependendo de circunstâncias. O maior exemplo: o Flamengo depende da qualidade de seu novo treinador e seus “craques” acordarem.
E aqui entra também uma particularidade do Campeonato de 2018: teremos uma pausa para a competição máxima do futebol, a Copa do Mundo. Nesse mês os times podem descansar, ajustar os seus elencos e treinar. Aqui os times com os melhores treinadores vão poder subir um nível e voltar para a segunda etapa da competição com vantagem tática.
Então além de ser uma competição tradicionalmente equilibrada, ainda temos um intervalo que pode mudar as forças e a qualidade das equipes. Assim, fica até difícil fazer previsões.