O texto de hoje era para ser apenas sobre os resultados dos brasileiros na Copa Libertadores 2020. Pois bem, foram seis jogos e seis vitórias, quatro delas fora de casa. Nenhum dos rivais eram seleções históricas, nem o pentacampeão Peñarol – especialmente o Peñarol aliás – mas mesmo assim é algo impressionante.
Será que o futebol brasileiro está virando a chave depois de sua pior fase em pelo menos três décadas?
Resposta simples: parece que sim
O fim dos anos 80 não foram fáceis para o futebol brasileiro. O trauma da Copa de 82 bateu pesado e 86 não ajudou. Chegamos na Copa de 90 nos arrastando e perdemos para a Argentina.
De 1985 a 1991 não disputamos nenhuma final de Libertadores e até nos Campeonatos Nacionais tivemos campeões que tiveram todo seu mérito, mas nenhum avô puxará seu neto de lado para contar os grandes feitos do Coritiba de 1985. A não ser que ele seja um coxa-branca fanático.
Muito bem, avançamos 30 anos. 7 a 1, times não muito marcantes ganhando campeonatos brasileiros, vácuo na produção de estrelas, pancadas na Copa América, derrota para a Bélgica sendo dominado, brasileiros sendo eliminados por times modestos no cenário sul-americano… você conhece a história.
Claro que não foi só o Flamengo e o dedo mágico de Jorge Jesus que mudou tudo. Renato Gaúcho e seu Grêmio também foram importantes nesse quesito. Jorge Sampaoli e suas ideias idem.
Mas o Flamengo deu um passo a mais, ganhando de grandes de forma dominante. Só ver a vitória contra o próprio Grêmio, que gerou mudanças no Tricolor e em Renato para 2020. O Flamengo ainda encarou um europeu de frente, mesmo que o Liverpool não estivesse 100% com a cabeça ali. Melhor perder na prorrogação que levar de 4 ou ser eliminado pelo Raja Casablanca.
Voltamos a revelar em peso e ter protagonistas no futebol europeu. Por mais que não seja ideal vender Vinicius Junior e Rodrygo com 17 anos, eles foram para o Real Madrid, não para a Ucrânia. Firmino, Alisson, Casemiro, Gabriel Jesus, todos eles são importantes nos melhores times do mundo.
E o melhor de tudo: agora as torcidas e imprensa cobram mais o desempenho, ter ideias, jogar para a frente, não só “saber sofrer” e jogar sem a bola. Veremos se Tite consegue acompanhar essa mudança de mentalidade e cobrança ou se teremos que ir com outro nome para 2022.
Times brasileiros se impuseram
Palmeiras, Grêmio e Internacional tinham times melhores que seus rivais e mostraram isso, não colocando desculpas. Os dois primeiros não fizeram partidas perfeitas, mas estavam fora de casa e aproveitaram suas chances. Não correram risco de perder o resultado se entrincheirando em suas áreas.
Santos e Flamengo ganharam pelo mesmo placar e também não jogaram partidas maravilhosas. Mas quantas vezes não vimos equipes brasileiras com a mesma superioridade de talento e finanças se contentar com um empate? O Santos não ganhava fora de casa em estreia desde 2007. Em 2011, com Neymar e companhia empatou com o Deportivo Táchira, da Venezuela, por 0 a 0.
O Flamengo fez 1 a 0 logo, conseguiu o segundo gol e só no final o Junior marcou com bola parada. Não preciso nem falar aqui do tanto de vezes que o Flamengo foi engolido em gramados sul-americanos e eliminado em primeira fase.
O São Paulo agora terá o peso de completar o 100% dos brasileiros. Na Betfair a vitória tricolor paga 3 para 1, contra 2,4 do Binacional. Isso quer dizer que o time peruano é bom? Veremos com mais detalhes, mas é inegável que os 3800 metros de altitude é o capitão e camisa 10 da equipe.
Mesmo que o São Paulo não saia com um resultado positivo, esta rodada inicial de Libertadores já foi interessante para o futebol brasileiro e um bom indicativo que estamos saindo de um período de trevas. Claro que não vai ser perfeito e vamos ganhar tudo. exemplo disso é o Corinthians na Pré-Libertadores deste ano. Mas a tendência é que os principais clubes do Brasil voltem a ser protagonistas.
A história do Brasil nos campos de futebol é de dominância e exuberância e tanto a invasão de campo (foto do topo) quanto o choro do menino ao receber a camisa de Gabigol são provas disso. Cabe honrar esse status.