O Flamengo não é o primeiro time a ameaçar dominar o país do futebol, que normalmente tem uma variação de forças bastante grande. Só ver que o Palmeiras cinco anos atrás quase caiu para a Série B e o Cruzeiro, candidato a campeão brasileiro, foi rebaixado em 2019.
O Rubro-Negro é o último em uma lista que já teve o Palmeiras da Parmalat, o São Paulo no meio dos anos 2000, o Fluminense com a Unimed, o Corinthians após a conquista do mundo e contratação de Alexandre Pato e o Palmeiras recentemente. Todas as tentativas de monopólio foram logo “superadas”.
Isso irá acontecer agora? Talvez tenhamos chegado no momento que realmente não há resposta dos outros 19 times para um clube brasileiro.
O Flamengo está guloso
O Flamengo sobrou no Campeonato Brasileiro, venceu a Libertadores e jogo bem no Mundial. Diferentemente de algumas das equipes citadas acima, ainda não veio um desmanche ou a perda de um jogador de destaque. Reinier era reserva.
Não só isso, o Flamengo continua contratando. Gustavo Henrique é uma boa opção para a zaga, Thiago Maia é substituto para Arão ou até Gerson e Pedro Rocha era pretendido por muitos times no Brasil.
Aliás quando se fala no ataque é que se percebe a abundância. Gabriel não saiu e não deve sair. Mesmo assim chegou Pedro Rocha e o time ainda quer Pedro. Para que tudo isso? Bom, o clube pode ficar sem Gabigol durante a Copa América e já está se preparando. Quem pode, pode.
E Michael? Bruno Henrique também não saiu. O time também pensa em uma reposição para uma possível convocação para a Copa América ou lesão. Mas Vitinho não serviria para isso também? Pois é.
A dominância do Flamengo preocupa os rivais porque ela não é artificial. Querendo ou não, o casamento Fluminense e Unimed e Palmeiras e Parmalat – e até Crefisa – é uma relação empresarial que pode azedar. O dinheiro do Flamengo vem das cotas de TV superiores, vendas de atletas bem feitas – são 465 milhões de reais apenas nos últimos três anos – e a união de Sócio-Torcedor gigante e rendas absurdas.
Um patrocinador pode sair, mas 40 milhões (ou 30, 35, não importa) de torcedores não irão embora. E se o time continuar bom, eles vão continuar gerando renda e fazendo a roda girar. Só o Corinthians pode fazer algo no mesmo gênero, só que o time paulista cometeu um erro gravíssimo: a construção do estádio em Itaquera sem ter como pagá-lo.
Como o Império pode cair?
Torcedores de Vasco, Botafogo e Fluminense pensam em planos para a derrubada do poder. Vou ajudá-los. Mais ou menos: esse império é o mais sólido de todos os citados.
Como dissemos, Fluminense e Palmeiras eram dependentes dos caminhões de dinheiro de parceiras. O Palmeiras também conseguiu ativar sua torcida e seu estádio é uma benção, diferentemente do Corinthians. Mas como o Flamengo tem uma torcida maior e joga no Maracanã (estádio maior), a diferença de renda é grande: em 2019 foram 96 milhões contra 56 milhões do Verdão.
Claro que o que aconteceu em campo importou. Então, para sermos mais justos e comparando o Fla de 2019 com o Palmeiras de 2018 (campeão brasileiro), ainda há uma diferença de quase 20 milhões.
Um bom parâmetro para se usar neste caso é o São Paulo, que também parecia que tinha descoberto a fórmula para dominar e somou conquistas entre 2005 e 2008, inclusive com um Mundial contra o Liverpool que escapou para os cariocas.
A queda do São Paulo se deveu à sede de poder de Juvenal Juvêncio e uma estrutura diretiva mesquinha com brigas e egos inflados. Inclusive afastando dirigentes e treinadores responsáveis pelo sucesso em campo. Algo similar já pode estar acontecendo no Flamengo neste momento, aliás.
Soma-se a isso o crescimento dos rivais. O São Paulo aproveitou o Morumbi por alguns anos porque o estádio era único: o time não pagava aluguel, ganhava muito com shows e nele cabem 60 mil pessoas. Quando a equipe perdeu o direito de sediar a Copa e o Palmeiras construiu um estádio moderno sem se endividar, o Morumbi passou de “exclusivo” para ultrapassado.
No caso do Flamengo não será o estádio o problema, mas talvez a estrutura do clube. Com o avanço da legislação de clubes-empresa e a adoção por necessidade do Botafogo, por exemplo, pode existir um equilíbrio maior de investimentos que hoje é completamente díspar.
Novamente, são cenários hipotéticos e ainda insuficientes. Palmeiras e São Paulo tem tamanho de torcida similar, rendas de televisão próximas e dívidas no mesmo patamar. Por isso o fator estádio desequilibrou a balança, assim como a reorganização financeira do Verdão.
Se o Botafogo, por exemplo, virar um clube-empresa e tiver um ricão investindo, ainda vai existir uma grande diferença em torcida, renda de televisão e dívidas do clube.
Ao mesmo tempo que dá para argumentar que o futebol é cíclico e que o Flamengo não será um Bayern de Munique tupiniquim, não dá para negar que estamos no ponto mais próximo de dizer adeus ao equilíbrio no futebol nacional.
Isso pelo menos para 2020, com todos os reforços e a manutenção de todo o time campeão em 201. O Flamengo será favorito na Betfair no Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Libertadores e Carioca, pode ter certeza.