O Brasil já teve mais moral no cenário internacional de futebol, é verdade, mas ainda somos vistos por muitos como o país do futebol.
Na história do futebol brasileiro não faltaram técnicos estrangeiros que aceitaram treinar clubes daqui, e alguns se saíram excepcionalmente bem, outros nem tanto – veremos ambos aqui.
Estamos falando de um especial para relembrarmos 10 técnicos estrangeiros que treinaram times brasileiros nos últimos anos. Resolvemos não colocar em ordem de “melhores”, e sim apenas a data que treinaram os times, todos a partir de 2005.
10. Daniel Passarella (Corinthians, 2005)
Em tempos de início de pontos corridos, ter um técnico estrangeiro no elenco era considerado um luxo, por isso quando o Corinthians anunciou a contratação do argentino Daniel Passarella, campeão do mundo com sua seleção em 1978, o choque não foi pouco.
O treinador foi mais um fruto da hoje famigerada parceria corintiana com a MSI, a mesma responsável por trazer os compatriotas Tévez, Sebá Domínguez e Mascherano, entre outros, mas a lua de mel entre as partes foi curta.
Depois de apenas um mês, a goleada sofrida perante o rival São Paulo por 5×1 foi a gota d’água para um elenco que já estava rachado e cheio de problemas. Quis o destino que, ao final da temporada, o Corinthians acabasse campeão brasileiro – mas Passarella teve pouco ou nada a ver com isso, e não deixou saudades.
9. Lothar Matthäus (Athletico-PR, 2006)
De todos os nomes da lista, talvez nenhum surpreenda mais do que o de Lothar Matthäus, único alemão a treinar um time brasileiro até hoje, e que teve rápida passagem pelo Athletico-PR.
Depois de ter sido contratado quase que “de brincadeira” – reza a lenda que, num jantar com investidores e empresários, alguém sugeriu que o alemão aceitasse o cargo e, surpreendemente, ele o fez – a chegada de Matthäus ganhou contornos de visita papal.
Na prática, porém, o tempo do tricampeão do mundo com a Alemanha em 1990 em Curitiba esteve longe de ser tranquilo. Embora invicto, o técnico foi embora com apenas 7 jogos na bagagem e muitos rumores de briga com diretoria, desentendimento no elenco e até mesmo problemas conjugais (!)
8. Ricardo Gareca (Palmeiras, 2014)
O Palmeiras é daqueles times cascudos quando o assunto é futebol sul-americano, e por isso o Verdão buscava um nome condizente em 2014, quando demitiu Gilson Kleina meses após este ter sido campeão brasileiro da Série B e, naturalmente, subido com o clube paulista de volta à elite.
O nome escolhido foi o do argentino Ricardo Gareca, nome experiente e que havia conquistado muita coisa com o Vélez Sarsfield e deveria recolocar o Palmeiras no mapa da relevância da América do Sul. Infelizmente, as coisas não seguiram esse caminho.
Em apenas 12 jogos, o técnico obteve três vitórias, um empate e oito derrotas, o segundo pior desempenho de um técnico palmeirense no século XXI, e acabou demitido com pouco mais de 4 meses no cargo. No ano seguinte o técnico se achou na Seleção do Peru, e lá está até hoje, mas no Palmeiras as coisas não vingaram.
7. Juan Carlos Osorio (São Paulo, 2015)
Faz alguns anos que o torcedor são-paulino tem todos os motivos para reclamar do seu time, e em 2015 já era assim, quando o colombiano Osorio assumiu o time para tentar retornar o Tricolor no caminho dos títulos.
O que se viu, porém, foi um São Paulo apenas mediano, sendo que o treinador obteve números inferiores aos seus antecessores na temporada, Muricy Ramalho e o interino Milton Cruz.
Mesmo assim, com 51% de aproveitamento, o treinador não foi sacado – ao contrário, pediu as contas e foi treinar a Seleção Mexicana. O desempenho ruim da nação na Rússia fez o treinador ser demitido, rodar por aí por um tempo e se ver desempregado no momento em que esta matéria é escrita.
Já o São Paulo seguiu na toada de ter três ou quatro técnicos por temporada, pelo menos até 2019, quando Fernando Diniz, ao que parece, se estabilizou no cargo.
6. Diego Aguirre (Inter, 2015/ Atlético-MG, 2016/ São Paulo, 2018)
De todos os nossos nomes na lista, ninguém rodou mais pelo Brasil do que Diego Aguirre. Com três passagens por times distintos, o uruguaio se tornou figurinha carimbada entre os técnicos do país.
Sua primeira passagem foi pelo Internacional, clube com o qual foi campeão gaúcho em 2015 e chegou até as semis da Libertadores – mas acabou demitido pouco antes de um Grenal. Os números finais ficaram em 48 partidas oficiais, com 24 vitórias, 15 empates e nove derrotas.
No ano seguinte, o treinador já estava empregado no Brasil, dessa vez no Atlético-MG, mas as coisas não deram muito certo, com o treinador perdendo a final do Campeonato Mineiro e sendo eliminado pelo São Paulo nas quartas da Libertadores.
O São Paulo, aliás, foi o último clube brasileiro treinado por Aguirre, já em 2018. O começo foi turbulento, com eliminação no Paulista e na Libertadores bem antes do esperado, mas o bom desempenho no começo Brasileirão segurou o emprego do técnico, que só caiu em novembro. Campeão do primeiro turno para, no segundo, vencer só quatro de 19 jogos, o técnico acertou sua saída junto à diretoria são-paulina.
5. Edgardo Bauza (São Paulo, 2016)
Falando ainda no São Paulo, mais um treinador estrangeiro que passou por lá recentemente foi Edgardo Bauza, argentino que começou treinando o time pelo qual é ídolo, o Rosário Central, mas foi destaque mesmo quando assumiu a LDU, faturando dois títulos nacionais do Equador e uma Libertadores em 2008 – aquela mesma em cima do Fluminense, lembra?
Com ainda a Libertadores ganha pelo San Lorenzo na bagagem, Bauza se tornou sonho de consumo do São Paulo, que contratou o técnico em 2016 com altas expectativas e viu bons resultados, inclusive a chegada às semis da Libertadores.
Embora terminando sem título, o São Paulo contava com o técnico para a temporada seguinte, mas o chamado da Seleção da Argentina convenceu Bauza a ir embora – algo que eventualmente não daria certo. Ambos, ao que parece, saíram perdendo.
4. Paulo Bento (Cruzeiro, 2016)
Hoje em dia é moda vermos treinadores portugueses no futebol brasileiro, mas um dos primeiros dessa nova leva foi Paulo Bento, trazido pelo Cruzeiro logo após treinar a Seleção Portuguesa na Copa de 2014 e também a Euro 2012.
Infelizmente para os dois envolvidos, porém, o casamento não deu certo. Mesmo com um time competitivo, os três meses do português à frente da Raposa foram para esquecer, com expulsões, polêmicas e resultados horrendos.
Depois de perder para o Sport no Brasileirão daquele ano e ver o time na vice-lanterna, o Cruzeiro mandou Paulo Bento embora, e a carreira do português seguiu outros rumos – ele agora é treinador da Seleção da Coréia do Sul.
3. Jorge Jesus (Flamengo, 2019-2020)
Hora do Mister! Depois da sacodida que Jorge Jesus deu no futebol brasileiro, as apresentações se tornaram dispensáveis. É o treinador estrangeiro mais vitorioso do século no Brasil até o momento.
A vinda de Jesus para o Flamengo representou o auge do investimento do Rubro-Negro em todo o talento que pudesse conseguir, mas pela primeira vez atingindo o extracampo. Como todos sabem, claro, foi um investimento que deu certo demais.
Em apenas pouco mais de uma temporada, o português conduziu o Flamengo a seu primeiro título brasileiro em 10 anos e, mais importante, à primeira conquista da Libertadores em quase 40. A vitória de virada, dramática mesmo sobre o River Plate na grande final foi o momento mais feliz da vida de muitos flamenguistas.
A surpresa foi grande quando, sem muito papo, o técnico voltou ao Benfica, no início deste ano, e deixou os Rubro-Negros órfãos e um time, convenhamos, que não assusta nem perto do que assustava com Jorge Jesus.
2. Jesualdo Ferreira (Santos, 2020)
Um dos últimos europeus a deixar o futebol brasileiro foi Jesualdo Ferreira, que seria seguido não muito tempo depois por Domènec Torrent. O português estava no Santos desde o fim de 2019, mas acabou rodando em agosto de 2020.
Mesmo com o Peixe começando bem na Libertadores, o desempenho ruim do treinador no Paulistão foi o que selou sua demissão. Vale dizer que ele foi o treinador que pegou o Santos no meio da pandemia da COVID-19, e passou mais tempo em quarentena do que efetivamente treinando o clube.
Eliminado pela Ponte Preta no Estadual e com números medianos de aproveitamento (49%), o que matou a carreira do treinador no Santos foi o relacionamento com o presidente José Carlos Peres, tido por “horrível, desleal”, nas palavras do treinador.
1. Jorge Sampaoli (Santos, 2019/ Atlético-MG, 2020)
Para terminar, vale citar o nome mais badalado e respeitado entre os estrangeiros atuando no Brasil no momento: Jorge Sampaoli.
Tendo chegado ao Santos como quem não quer nada, ainda em 2019, o técnico argentino impressionou os brasileiros pelo currículo antes de mais nada, com passagens respeitáveis, entre outros, por Universidad de Chile, Sevilla e pelas seleções de Chile e Argentina.
Quando chegou no Santos, o que se viu foi um técnico que caiu nas graças da torcida em poucos dias, principalmente pelo estilo de jogo ofensivo que atribuiu ao Peixe. Mesmo sem conquistas, o time foi bem demais no Brasileirão em 2019 – sua melhor temporada em 13 anos – e acabou vice-campeão, vencendo inclusive o já campeão Flamengo na última rodada.
Não foi com pouca surpresa que, no início da temporada 2020, o técnico anunciou sua ida para o Atlético-MG, onde permanece até agora. Uma coisa, porém, é fato: Sampaoli está fazendo um belo trabalho, com mais de 70% de aproveitamento com o Galo, com quem já foi campeão Mineiro e, no segundo turno do Brasileirão atual, é líder.