Não foi uma saída legal, ainda mais depois de muitas promessas de dominância por anos, um contrato renovado e contratações chegando em peso. Ainda mais porque a volta de Jorge Jesus ao Velho Continente não será em um gigante atual e sim no Benfica, time de história mas que está no terceiro ou quarto patamar europeus.
Mesmo assim eu duvido que os torcedores do Flamengo vão ter raiva do português, pelo menos depois de passar este calor do momento. O que Jesus entregou foi algo inigualável: foram mais títulos que derrotas, um Campeonato Brasileiro perfeito desde que assumiu e uma conquista da Libertadores inesquecível, depois de 36 anos e com uma virada de cinco minutos no fim da partida.
O sucesso é inquestionável: valeu a pena trazer o português. Mas qual é o legado? Para onde o Flamengo vai agora?
Dominância é esperada, mas não é dada
Quem fala que o Flamengo começou a cair depois de ser pressionado pelo limitado mas guerreiro Fluminense está um pouco apressado. A motivação para o Flu ganhar era 50 mil vezes maior que para o Flamengo, que tinha no Campeonato Carioca uma obrigação. O time ter tido a melhor campanha, vencido a Taça Guanabara e ficado a um pênalti de vencer a Taça Rio é quase humilhante para os rivais levando em conta que a equipe jogou por um bom tempo com seu time alternativo do alternativo.
Cada time que for enfrentar o Flamengo vai querer tirar o rubro-negro do pedestal, enquanto o Fla vai ter que encontrar motivação para encarar competições que já ganhou. Por enquanto, tudo estava indo bem. Todas as disputas foram vencidas – Supercopa Nacional e Continental, Estadual – e o time segue tendo um elenco muito superior a qualquer rival brasileiro.
A única perda de titular em Pablo Marí foi substituída por Leo Pereira e Gustavo Henrique, que podem até não ser gênios, mas sabem jogar. As opções de ataque possibilitam diversas formações, seja mais leve, mais pesado, mais rápido, enfim, um sonho para qualquer treinador brasileiro.
Mas aí há um problema agora.
O treinador não pode ser qualquer um
Não adianta ser bom apenas, precisa conquistar o vestiário. Até agora não tivemos graves casos de indisciplina ou coisas do tipo, mas também o time só venceu basicamente. Com tanto jogador bom no banco e talvez um treinador que queira deixar sua marca e mudar em time que está vencendo (seja peças ou esquema mesmo), podem surgir as primeiras faíscas.
É difícil imaginar que o Flamengo queira um treinador brasileiro depois da péssima experiência com Abel Braga e as negociações infinitas e mal-sucedidas com Renato Gaúcho. Nomes de treinadores portugueses foram ventilados: Leonardo Jardim, ex-treinador do Monaco e Marco Silva, com experiência no futebol inglês, por exemplo.
Mas um nome é o grande nome. Especulava-se que Jorge Sampaoli estava de olho no movimento do seu xará para saber se o Flamengo estava disponível na virada do ano. Não estava. Sampaoli aceitou a proposta do Atlético-MG, algo que não fez muito sentido. O Galo não está na Libertadores, não tem um grande elenco e sua situação financeira é duvidosa, para ser simpático.
O argentino tem multa, mas o Flamengo tem dinheiro para pagar. Se isso acontecer, Belo Horizonte vai pegar fogo.
Só que talvez o vestiário do Flamengo também. Sampaoli tem muitos pontos positivos, mas lidar com pessoas não é um deles. Ele sai brigado de todos os lugares e estrelas não tem vida fácil com ele. O elenco de operário do Santos reagiu bem, mas mesmo assim teve bate boca com jogadores (Cueva). Chegando em um time campeão e com o ego do tamanho do mundo, Sampaoli pode querer reinventar uma roda que já anda bem demais e causar problemas.
Agora essa é sem dúvidas a novla do futebol brasileiro: quem o Flamengo irá contratar?