Para um campeonato que teve três campeões nos últimos 15 anos e é basicamente uma corrida de dois toda temporada (desculpa, Atlético), ser um deles e ficar sem troféu por três anos é uma eternidade. Essa eternidade, porém, acabou de chegar ao fim para o Real Madrid, que faturou o título de La Liga depois da vitória sobre Villarreal por 2 a 1.
É a primeira conquista dos Merengues no campeonato nacional desde a temporada 2016-17, o equivalente a um milênio para o time da capital, título esse primeiro e único sob o comando de Zidane – até esta quinta-feira muito feliz para o Real, é claro, quando as odds em Betfair, de 1,01 para 1, já davam o título como praticamente certo.
Elenco desacreditado
Como todo ano, o Real Madrid foi um dos protagonistas da janela de transferência. Primeiro como vendedor, já que Zidane e os cartolas se livraram de muita gente que já não rendia o que se esperava ou que pediu para sair por espaço – casos de Keylor Navas, Llorente, Théo Hernandez e outros.
Por outro lado, a contratação bombástica na Europa também foi a dos Merengues: Eden Hazard, ídolo máximo do Chelsea por 7 anos, campeão de tudo e mais um pouco com os Blues e que chegara não apenas para ser a joia da coroa madridista, mas também (e talvez principalmente) para herdar camisa, importância e funções de Cristiano Ronaldo, saído para a Juventus no ano anterior.
O choque, porém, foi o fracasso fenomenal que se mostrou a contratação do próprio Hazard logo de cara. Adquirido para ser estrela, o belga não jogou nem metade da temporada e anotou um mísero gol.
O que se viu logo de cara, aliás, foi um time bagunçado como um todo, como não se via há tempos. Gente que havia chegado a peso de ouro, notadamente Gareth Bale, estavam absolutamente desconexos do resto do elenco e mais preocupados em forçar saída do que efetivamente jogar, ao que parecia. James Rodriguez, Asensio e até Modric (embora esse tenha se recuperado bem depois) também esquentavam mais banco do que qualquer outra coisa.
Podemos pegar leve, claro, porque o que afetou o astro foram as lesões, mas elas vieram assustadoramente rápidas e em grande quantidade – foram quatro em poucos meses. Na volta da pandemia, devidamente em forma, ele não fez feio, mas passou longe de ser centro das atenções.
No final das contas, quem carregou o Real Madrid nas costas numa temporada complicadíssima – talvez a que tenha culminado no título mais difícil de Zidane – foram os veteranos, inclusos aí Marcelo, Toni Kroos, Benzema e, acima de todos, Sergio Ramos, herói das últimas partidas, inclusive fazendo gols.
Campanha (e sorte) de campeão
Dentro de campo, pelo menos no começo da temporada, o que se viu foi um Real Madrid mais correndo atrás do Barcelona na tabela do que efetivamente correndo rumo ao título.
Claro que a disputa se mostrou feroz e o time roubou a liderança em umas rodadas, mas a realidade era outra e, como todos sabemos, segundo lugar em campeonato de dois times é…bem…nada. Imagine então em 2018-19, quando o clube ficou em terceiro e muito longe do Barça?
Cinco vitórias nos primeiros nove jogos custaram caro ao Real Madrid, que contou com a sorte de ver seu arquirrival Barcelona igualmente xexelento em campo – os líderes das primeiras rodadas acabaram sendo Athletic Bilbao, Atlético de Madrid e Sevilla. Os Merengues tomaram a ponta em seguida, mas passaram de outubro a janeiro na vice-liderança, vendo o Barcelona encaminhar o que seria seu tetra.
Entre janeiro e março, antes de o mundo da bola ser paralisado pela COVID-19, La Liga virou uma gangorra imprevisível, na qual o Real era um dos mais instáveis – vide a vitória sobre o Barcelona por 2×0 no Bernabéu, precedida e sucedida por derrotas bobas para Levante e Betis, respectivamente.
Uma pausa, por mais que os motivos sejam terríveis, era exatamente o que o time da capital precisava, e isso ficou claro com as absurdas 10 vitórias consecutivas desde a retomada das atividades, incluindo aí triunfos em jogos que poderiam ser azedos, como Athletic Bilbao, Getafe e Villarreal agora.
Com os tropeços do Barcelona, que perdeu pontos quando não podia (especialmente em empates bobos), coube ao Real Madrid fazer o dever de casa e, sem depender de ninguém, levantar a taça de La Liga pela 34ª vez.