Dava para saber que não seria uma transição fácil, mas 5 a 0 contra o Independiente del Valle é demais. A torcida do Flamengo acordou nesta sexta-feira com a cabeça quente depois do clube sofrer a maior goleada na sua história na Libertadores, justamente um ano depois de vencer a competição e ter uma equipe altamente qualificada.
Isso depois de perder de 2 a 0 para o Ceará e ter o 3 a 0 contra o Atletico-GO vivo na memória. Se Jorge Jesus teve que apagar o 3 a 0 sofrido contra o Bahia no começo de sua passagem, Domenec Torrent vai ter que correr atrás de muita coisa.
Só que Jesus tinha um elenco menos qualificado e quando achou seus 11, pode voar com ele sem se preocupar com egos. O Flamengo atual tem excelentes jogadores no banco, titulares que não querem nem ser poupados e uma expectativa do tamanho do mundo. Qualquer coisa a menos que 2019 será visto como retrocesso.
E não dá para subestimar outros fatores
No dia 1° de abril – não é mentira – escrevi sobre o Flamengo ter sido o time mais prejudicado pela parada. Além da boa fase que ainda se prolongava – a equipe não era brilhante, mas seguia ganhando – parar tudo significa um grave impacto econômico para uma equipe que ganha muito, mas gasta muito. Além disso ainda veio toda a questão de Jorge Jesus e sua volta a Portugal.
Por causa da longa parada, o calendário foi achatado e não vão faltar jogos quarta e domingo, ainda mais para o Flamengo, que está na Copa do Brasil, Libertadores e Brasileirão. Isso faz as tentativas de Dome para implantar seu estilo ainda mais perigosas: não dá para fazer isso no meio dos jogos, é preciso de treinamentos e tempo.
O jogo de Guardiola e o que Jesus implantou são coisas totalmente diferentes. E isso pode ser visto nas escalações: o catalão gosta de ter um jogador aberto para dar velocidade, testando Michael. Mas com isso ou Everton Ribeiro ou De Arrascaeta precisam sair. A fase de Bruno Henrique não ajuda também.
Contraste com Jorge Jesus
O Flamengo com o português não ia ganhar para sempre. Não há nada mais certo nos esportes que a decadência de um atleta ou uma equipe com o passar do tempo. No caso do futebol brasileiro tivemos diversas equipes dominantes, mas elas tem períodos no auge cada vez menores: jogadores saem, a reposição não é boa, o treinador não tem mais o comando do vestiário e assim tudo precisa ser mudado. O Grêmio, por exemplo, parece estar passando por um período de mudanças.
No Fla, a saída de Jesus deixará para sempre aquele gostinho de quero mais e que poderia ter dado para estender a fase espetacular por mais tempo. Mas a queda de alguns jogadores, especialmente William Arão, Gerson e Bruno Henrique, indicam como é difícil manter as turbinas sempre aquecidas.
Segundo reportagem do Globo Esporte de hoje, a diferença de personalidade entre o português e o catalão são grandes e o elenco poderia estar sentindo a mudança, ficando confuso com os pedidos de Dome. Quando começam a surgir essas matérias, o problema é sério. E é claro que o primeiro que terá sua cabeça oferecida será o treinador, já que não dá para trocar o elenco inteiro ou quem escolheu o técnico.
Quando isso irá acontecer? Nesta terça-feira o Flamengo enfrentará o Barcelona de Guayaquil, que está zerado no Grupo A. Sem dúvidas será favorito na Betfair. Qualquer coisa além de uma vitória será péssimo, mesmo que a vida no grupo esteja tranquila: o time carioca tem 6 pontos, já venceu o Junior na Colômbia é senhor de seu destino.
No fim de semana o rival será o Palmeiras em São Paulo. Aqui mora o perigo para Dome e sua comissão. Ou seja, a próxima semana será absolutamente fundamental para o ex-auxiliar de Guardiola, que já sente toda a pressão que existe sobre os treinadores no Brasil.
