Não faltaram textos sobre uma verdade verdadeira que contém verdades: o futebol brasileiro não tem o mesmo patamar de 20 anos atrás, muito menos de 50 anos atrás. O Palmeiras ter perdido para o Tigres ainda é algo inesperado e será assunto para muita zoação dos rivais, mas está longe de ser uma zebra ou vexame.
O Verdão já estava no seu limite físico e a final da Libertadores foi uma prova disso. A viagem para Doha e a falta de tempo para Abel Ferreira trabalhar sua ideia – o 3 a 0 contra o River foi exceção, não regra – justificam a atuação ruim. O 1 a 0 ficou barato e Weverton confirmou seu status como melhor goleiro do Brasil.
Desde o Mazembe em 2010 – aquilo sim um vexame – que teve o Internacional como vítima, tivemos a derrota do Galo para o Raja Casablanca e eliminações de River e Atlético Nacional também nas semis. Não é algo fora da curva quando acontece cinco vezes em 10 anos.
As derrotas na final de Grêmio e Flamengo estiveram longe de serem desonrosas. Mas o Grêmio mal passou do meio-campo contra um Real Madrid desinteressado. O Fla fez ótima partida contra os ingleses, perdendo apenas na prorrogação. Falaremos mais dela.
Um jogo como o do Flamengo será cada vez mais uma exceção. A vitória de Corinthians, Internacional e São Paulo então será um oásis. Para um brasileiro vencer o Mundial de Clubes será preciso uma conjunção de fatores: um desinteresse ainda maior do que o normal do time europeu, uma partida espetacular do goleiro e um europeu campeão que passa por má fase seis meses depois de ter vencido a Liga dos Campeões. Com as mudanças propostas no Mundial e a inclusão de mais europeus, será ainda mais difícil.
O Bayern de Munique não está em boa fase. Nas declarações está sendo polido e mostrando motivação para vencer, mas não porque o Mundial é uma competição incrível e sim porque a viagem a Doha pode garantir o sexto título em uma só temporada, algo nunca alcançado pelo clube. O time venceu o Al Ahly por 2 a 0 com dois gols de Lewandowski e pega o Tigres na quinta, sendo o claro favorito na Betfair: 1,22 para 1 na vitória dos alemães, 10 para 1 para os mexicanos.
O Mundial do Flamengo em 2019 foi significativo
Já estamos cansados de falar que o Flamengo é exemplo financeiro e de gestão no Brasil. Isso está longe de dizer que tudo funciona de forma perfeita no Ninho de Urubu, mas comparado aos pares brasileiros, especialmente os rivais cariocas, o Fla montou uma estrutura que permitirá a disputa por títulos todos os anos.
Com um treinador que teve um trabalho interessante no Benfica, jogadores com passagem pela seleção e outros bastante talentosos, a equipe pegou o Liverpool na final do Mundial e foi elogiada pelo resultado final. Mesmo tendo perdido, sofrido mais do que fez sofrer e dando uma importância muito, mas muito maior que seu rival.
E não está errado elogiar o Flamengo, mas isso mostra como é a diferença para o futebol europeu e que nem o Fla conseguirá eliminar, afinal já é uma questão que se mistura com o poder da economia dos países. O faturamento espetacular de 950 milhões do rubro-negro em 2019 dá 128 milhões de libras, menos de um terço do faturamento absurdo do Liverpool de 533 milhões de libras no ano fiscal de 2019.
O Brasil é uma das maiores potencias econômicas do mundo, mas o gasto médio que um torcedor pode desembolsar em algo relacionado a futebol e o time de seu coração nem se compara a de um torcedor inglês. E a penetração da Premier League em mercados internacionais nem se compara ao Brasileirão. Mesma coisa de Liga dos Campeões e Champions League.
O Palmeiras é outra equipe que é exemplo de gestão, tanto na arrecadação com patrocínios como venda de atletas, produtos licenciados e seu estádio. Perder para o Tigres hoje é algo feio no sentido da tradição, mas no campo é perfeitamente justificável. Se em 1992 a seleção do São Paulo bateu o Dream Team do Barcelona no campo porque fora dele existia um equilíbrio maior – e nós formávamos e desenvolvíamos os craques -, hoje não é mais assim. Gabriel Jesus saiu do Palmeiras com 19 anos.
A dura realidade é uma posição de coadjuvante e formação de craques para os clubes brasileiros. Até avançarmos na formação de uma liga interessante e que seja comercial para o resto do mundo e entrarmos na modernidade do futebol praticado em campo. Falta bastante.