As disputas no futebol brasileiro agora não são por uma bola dividida ou quando tem uma cobrança de escanteio. Os clubes estão divididos e o Flamengo tomou a dianteira em uma briga que o colocou em rota de choque com dois de seus rivais. O futebol no Brasil está de volta, mas não sabemos direito como.
Diferentemente da Alemanha, Espanha e Inglaterra, não tivemos negociações amplas, consensos e uma volta organizada. E mesmo lá teve discordâncias. O Flamengo decidiu que voltaria, o Bangu estava lá para jogar e o rubro-negro atropelou por 3 a 0, gols de De Arrascaeta, Bruno Henrique e Pedro Rocha.
Falar que está tudo errado é ser simpático: o Maracanã recebe ao mesmo tempo um jogo e doentes em um hospital de campanha para o tratamento da covid-19. O ritmo de nossas mortes está longe de parar. O Rio de Janeiro vive um caos completo na área da saúde. Quando o futebol voltou nos países que mencionamos, todos eles já tinham passado pelo seu pico e poucos morriam por dia. No nosso caso, estamos “estabilizados”, mas essa estabilização significa mil mortos por dia.
Mas como está tudo errado no país no tratamento dessa doença, vai lá, dá para argumentar que o futebol não seria um oásis de sanidade. E que com todos os cuidados do mundo poderíamos ter futebol. Absurdo, claro, mas calma que tem mais.
Fluminense e Botafogo não querem jogar. E um Campeonato Carioca sem os dois é como um sorvete napolitano sem chocolate e morango. Ambos recorreram ao STJD e não descartam irem à Justiça Comum. O Fluminense, aliás, só voltou a treinar ontem.
Quer mais algo? Claro, por que não? Ontem a MP 984/2020 editada pelo presidente Jair Bolsonaro acaba com a necessidade da anuência do time visitante na questão dos direitos de televisão. Um jogo entre Flamengo x Corinthians pode ser vendido pelo Flamengo para quem ele quiser sem precisar que o Corinthians aprove.
Essa MP pode ser derrubada no Congresso, mas a discussão sobre esse assunto abre para muitas vias. A primeira: estamos caminhando para uma liga no Brasil, algo que já deveria ter acontecido há muito tempo. Os melhores campeonatos de futebol do mundo são ligas e a NBA e a NFL, ligas norte-americanas de basquete e futebol americano, que precisam ser modelos para qualquer esporte, idem. O poder precisa ficar na mão dos clubes.
Mas o poder na mão dos clubes é muito mais positivo se eles se unirem. A NBA e a NFL negociam conjuntamente os direitos de televisão e até de material esportivo e por isso conseguem contratos gigantes, já que o poder de barganha é máximo.
Aqui no Brasil, caso Flamengo vá para um lado, Palmeiras para o outro e São Paulo ou Grêmio para um terceiro, cada um por si, os grandes vão ganhar seu dinheiro, mas os clubes com menor poderio podem acabar com migalhas.
Como a maioria dos clubes têm contrato até 2024, agora abre-se a discussão se o acertado é válido porque tem times que não fecharam acordos. A bagunça está formada. A ideia de ter uma liga é ótima e mais poder para os clubes só pode ser algo bom. Mas nós vimos o que aconteceu depois do fim do Clube dos 13: criamos castas em um futebol brasileiro que sempre foi equilibrado.
Ou seja, tivemos uma quinta-feira movimentada no futebol. O 3 a 0 do Flamengo no Bangu é quase um detalhe. O Vasco da Gama enfrentando o Macaé neste domingo, pagando 1,22 para 1 na sua vitória na Betfair, também.