Sempre favorito, Brasil parece completo, mas isso pode enganar

Tite, seleção brasileira

Único pentacampeão do mundo, o Brasil tem status de favorito em todas as Copas que disputa, mesmo que em campo não confirme esse status. Depois de campanhas fracassadas em 2006, 2010 e 2014 – nem preciso lembrar do 7 a 1 – a equipe entra de novo com o holofote na cabeça. E não só há razão para isso, como esta versão da Seleção pode ser a mais equilibrada e pronta para vencer dos últimos anos.

Nós vamos explorar neste texto os pontos fortes, possíveis pontos fracos, o desempenho do Brasil desde que Tite assumiu o comando e também o caminho para o Hexa.

Por que essa seleção é mais equilibrada que as de 2006, 2010 e 2014?

Claro que olhando para trás é sempre mais fácil ver erros e possíveis rachaduras. Hoje sabemos que a seleção de 2006 era a mais talentosa de todas desses últimos anos, mas uma preparação caótica na Suíça e jogadores que tinham passado do auge – e até estavam fora de forma – foram barreiras na Copa da Alemanha.

Já a Seleção de 2010, comandada por Dunga, teve resultados expressivos, com a conquista da Copa América e da Copa das Confederações. Além disso o time tinha uma certa forma traiçoeira, ganhando jogos em contra-ataques e mostrando frieza para decidir. Mas o talento não era tão abundante, com, por exemplo, Kaká já não jogando tão bem como no seu auge no Milan. E uma tenebrosa falta de opções para mudar os jogos. No fim um péssimo segundo tempo contra a Holanda causou a eliminação.

Já em 2014, com a empolgação de uma Copa em casa depois de 64 anos, Neymar mostrando que era uma estrela de calibre mundial e o atropelo contra a Espanha na Copa das Confederações, preferimos ignorar diversos problemas. A falta de experiência de vários jogadores em um palco tão grande, a Neymar-dependência e sua lesão, o atraso tático de nosso futebol e do treinador Felipão em relação aos melhores do mundo… tudo culminou no jogo contra a Alemanha no Mineirão.

Isso quer dizer que em quatro anos fizemos uma completa revolução e nosso futebol se tornou magnífico? Claro que não. Mas tivemos claras evoluções em talento e preparação para os jogos.

Neymar se consolidou e ganhou mais companhia

Quando Neymar chegou na Copa de 2014, ele tinha 22 anos, feito uma temporada pelo Barcelona – onde não brilhou tanto e o time foi mal com Tata Martino no comando – e já teve o peso de liderar o Brasil.

Hoje ele tem 26 anos, fez seguidas temporadas ótimas na equipe espanhola e foi o protagonista da maior transferência da história do futebol, para o Paris Saint-Germain. Neymar sabe como é ser o melhor de sua equipe, tem mais experiência e complementou ainda mais seu estilo de jogar.

Porém, é claro que preocupa a sua lesão no pé, que precisou de cirurgia e uma recuperação de meses. Tudo indica que ele estará 100% para a Copa do Mundo, mas sempre fica uma pulga atrás da orelha com lesões no pé, especialmente em esportes como o basquete e o futebol.

Neymar com bota
Neymar passou as últimas semanas usando uma bota. Porém, quando a bola rolar, ele deve estar pronto para liderar o Brasil

Considerando que Neymar chegue sem limitações físicas, ele ainda vai poder contar com melhor companhia que em 2014. Gabriel Jesus ou Roberto Firmino são jogadores muito superiores a Fred – pelo menos a versão dele na Copa de 2014 – e tanto Willian como Philippe Coutinho são excelentes garçons e meio-campistas modernos.

Por fim, vale destacar o lateral-esquerdo Marcelo, que está em sua melhor fase na carreira e também chega para 2018 com maior maturidade e experiência, sendo titular do Real Madrid há uma década. Ele sabe como atuar em jogos grandes e ofensivamente é um pesadelo para as defesas adversárias.

Preocupação na lateral-direita

O susto com Daniel Alves é bastante preocupante para a Seleção, já que ele é o titular inegável da lateral-direita e ainda há opiniões dissonantes sobre se ele perderá ou não a Copa.

Atualização: no fim foi confirmada que a lesão no joelho tirará o lateral direito da competição na Rússia.

Fagner ou Danilo são as opções em sua ausência; o primeiro, apesar da boa fase no Corinthians, representa uma queda em qualidade. Já Danilo, jogador do Manchester City, está acostumado a dividir o gramado com os melhores do mundo. Mas, assim como Daniel Alves, tem alguns erros de posicionamento e vacilos defensivos para chamar de seus.

A confiança em Tite

Depois da segunda era Dunga, que começou sem qualquer sentido e terminou sem ninguém lamentar sua saída, a CBF precisava de um nome inegável e conseguiu isso em Tite.

Independente se você gosta de suas coletivas e filosofias, Tite teve uma sequência de anos pelo Corinthians de dar inveja a qualquer treinador. Campeão da Libertadores e Mundial em 2012, Campeão Brasileiro em 2011 e 2015, Tite pode ser considerado um treinador moderno e antenado, mais que seus pares no Brasil.

Para 2014 o Brasil foi com Felipão confiando que sua ideia de família e a mística de ter sido o treinador do penta levantasse os ânimos dos jogadores. Tite consegue juntar esse lado psicológico e motivador – que também faz parte do jogo – com ideias que tire o melhor de cada atleta.

E isso provou dar certo na Seleção até o momento. Desde sua estreia nas Eliminatórias, um 3 a 0 contra o Equador em Quito, o Brasil voou na classificatória, onde não estava em situação confortável. Os momentos mais marcantes foram um 3 a 0 contra a Argentina no Mineirão e um 4 a 1 contra o Uruguay em Montevideo. Por último, a vitória contra a Alemanha, mesmo em amistoso, também foi um ponto importante.

É claro que os jogadores confiam em Tite e o que ele tem a dizer, algo que nem sempre pareceu a regra na Seleção Brasileira. E além de termos o talento, algo habitual, hoje o time joga de forma agressiva mas com solidez defensiva.

Ok, mas vamos segurar a empolgação

Tudo que foi dito acima é verdade. Mas a Copa do Mundo costuma pregar peças. Até porque estamos falando de apenas um jogo na fase de mata-mata (ou só mata). Nas últimas três Copas do Mundo, o Brasil perdeu para os dois vices nas quartas e o campeão na final. Ou seja, é raro ter uma zebra, mas isso quase aconteceu contra o Chile em 2014.

E mais importante que isso: há várias seleções que, se não estão no mesmo estágio do Brasil, estão pouco abaixo e contam com muito talento em seus times. Um exemplo disso é a França: a vice-campeã europeia e eterna pedra no sapato nossa tem um ataque com Antoine Griezmann e Kylian Mbappé (companheiro de Neymar no PSG) e não só isso. E ela pode ser uma rival já nas quartas.

Antoine Griezmann França
Griezmann e a França podem encarar o Brasil já nas quartas

Já a Espanha, caso confirme a primeira posição no Grupo B, que ainda tem Portugal, só pode ser uma rival na final. E ela é possivelmente a seleção mais completa de ponta a ponta. David De Gea é um dos melhores goleiros do mundo. Pique e Sergio Ramos são inegáveis em dois dos maiores clubes do planeta. Busquets, Iniesta, David Silva, Isco, Asensio, Thiago Alcântara… opções para o meio são as mais numerosas possíveis. O “problema” no comando do ataque é que Diego Costa parece ter tido uma queda de rendimento em relação a seus melhores momentos no Atlético e Chelsea. Mas mesmo assim é um 9 muito competente.

Ainda temos que considerar Argentina e Portugal, que tem Messi e Cristiano Ronaldo, respectivamente, e seu papel é colocar as peças certas para jogar em função de ambos e saber se defender. O problema é fazer isso com competência, algo que as duas seleções conseguiram em alguns momentos – vide Eurocopa de 2016 – mas falharam na maior parte da carreira de ambos.

E preciso falar da Alemanha? A geração de 2014 foi renovada, então ainda restam dúvidas. Mas o time ainda terá um goleiro incrível – seja Manuel Neuer ou, caso ele não volte a tempo, Ter Stegen – Toni Kroos, Mesut Özil, Mats Hummels e companhia limitada.

Ou seja, o Brasil até pode ser favorito, mas está é uma Copa onde não há tanta diferença entre o primeiro escalão – Brasil, Espanha e Alemanha – para o segundo de França, Argentina e Portugal. Bélgica e Inglaterra correm por fora. O caminho para o Hexa com certeza terá uma dessas seleções do outro lado.

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