“Foi a lista mais difícil que eu tive até para fechar. Não dormi”. Foi com essas palavras que Tite antecedeu a leitura da sua lista de convocados para a Copa América 2019.
A lista saiu na manhã de hoje, então muita gente já teve tempo de não apenas descobrir quem foi convocado, como também formar opiniões e expressar discordância, descontentamento e raiva nos comentários de vários sites e redes sociais.
Nosso objetivo aqui é ver com calma todos os nomes que foram chamados e entender porque eles foram chamados – assim como falar depois sobre quem não foi chamado.
Os 23 convocados de Tite
Vamos nos situar, antes de mais nada, listando quem foram os jogadores chamados, suas posições e seus respectivos clubes.
Goleiros: Alisson (Liverpool), Cássio (Corinthians) e Ederson (Manchester City).
Laterais: Alex Sandro (Juventus), Daniel Alves (PSG), Fagner (Corinthians) e Filipe Luís (Atlético de Madrid).
Zagueiros: Éder Militão (Porto), Marquinhos (PSG), Miranda (Inter de Milão) e Thiago Silva (PSG)
Meio-campistas: Allan (Napoli), Arthur (Barcelona), Casemiro (Real Madrid), Fernandinho (Manchester City), Lucas Paquetá (Milan) e Philippe Coutinho (Barcelona).
Atacantes: David Neres (Ajax), Everton (Grêmio), Gabriel Jesus (Manchester City), Neymar (PSG), Richarlison (Everton) e Roberto Firmino (Liverpool).
Desses 23 nomes, 14 foram jogadores convocados para a última Copa do Mundo, o que mostra que, mesmo renovando com nove nomes em relação à convocação do mundial, menos de um ano atrás, Tite insiste em uma base de jogadores de confiança.
É claro que nenhum jogador está sempre garantido em listas de convocação, mas havia certas posições que não havia muito o que se mexer.
Goleiros
Começamos pelo gol, posição para a qual o técnico brasileiro convocou exatamente os mesmos três atletas que na Copa do Mundo. Alisson está na final da Champions League e terminou a Premier League como goleiro com mais jogos sem tomar gol (21), enquanto que Ederson teve só um clean sheet a menos levantou o troféu do mesmo campeonato com seu time, Manchester City.
Muita gente defendia dar uma chance a Neto (Valencia), Weverton (Palmeiras) ou até Fábio (Cruzeiro) mas, tirando talvez a convocação de Cássio, que dificilmente vai entrar em campo, não tem muito o que se brigar na posição de arqueiro. Sem contar que discutir por terceiro goleiro é o fim…
Laterais
Entre os jogadores de linha as disputas já ficam mais interessantes. Começando pelos laterais, a posição com média de idade mais alta entre todas (31,5 anos), é bem óbvio que Tite preferiu chamar atletas experientes e “pratas da casa” do que dar chance a qualquer garoto que fosse.
Daniel Alves ficou de fora da Copa de 2018 e não era convocado desde março do ano passado, mas é de longe o mais velho do elenco (36 anos) e recordista de número convocações do elenco. Filipe Luís, agora com 33 anos, também é velho conhecido da torcida brasileira. Havia outras opções, óbvio, e talvez fosse hora de tentar outro atleta na lateral-esquerda.
Alex Sandro e Fagner são apostas um pouco mais jovens, mas nem tanto. Ambos vivem possivelmente seu auge técnico, mas, entre eles, apenas o nome do jogador da Juventus não levantou (tantas) polêmicas. O lateral-direito do Corinthians é daqueles que todo mundo pega no pé e chamam de xodozinho de Tite – embora, convenhamos, a oferta de atletas brasileiros da posição não é exatamente um oásis abundante.
Zagueiros
Eis aqui outra posição que, embora não falte potencial para discussão de mesa de bar, sendo bem realista, não há muito para onde fugir.
Três dos quatro convocados também disputaram a Copa da Rússia e são nomes certos dos times de Tite faz um bom tempo – a zaga titular com Marquinhos e Thiago Silva e o substituto natural de qualquer um dos dois, Miranda. Os dois últimos também entram na conta de veteranos favoritos do técnico, sendo que Miranda é reserva na Inter de Milão hoje em dia e poderia dar espaço a outros atletas. Marquinhos, por sua vez, é daqueles praticamente incontestáveis, no auge da forma e idade e comendo a bola.
A única novidade (e que não é nem tão novidade assim) é Éder Militão, que está jogando bem demais no Porto (melhor defesa disparada em Portugal), é jovem e esbanja potencial para fazer parte de uma muito solicitada renovação na Seleção Brasileira – sem contar que é versátil o suficiente até para jogar na lateral se for preciso. Não tem o que discutir.
Volantes e meias
Hora das cenas lamentáveis. Se tudo estava relativamente sossegado até agora, do meio-campo para frente Tite deu um prato cheio para qualquer um passar horas buzinando em caixa alta em todas as sessões de comentário dos sites de esporte do Brasil – começando pelos volantes.
Em uma temporada de pesadelo para o Real Madrid, Casemiro pode não ter comprometido o que já era ruim, mas certamente não fez nada de grande brilho para o time. Parece mais um caso de “cadeira cativa” de Tite na seleção.
Allan é um ótimo jogador, ajudou a carregar o Napoli até o vice-campeonato italiano e quartas de final da Liga Europa, mas é só. Arthur, por sua vez, foi campeão espanhol com o Barcelona e jogou a maioria das partidas, mas não foi exatamente um herói na Catalunha, principalmente pelos vários nadas que fez no fiasco contra o Liverpool nas semis da Champions League. Ambos jogadores “coletivos” e de qualidade, ainda assim.
O outro volante é Fernandinho, cujo desempenho na Copa do Mundo da Rússia todo mundo lembra bem – e não de um jeito agradável. O atleta foi perseguido em redes sociais depois do mundial, sentiu o golpe e até pediu para não ser convocado mais, ao menos por um tempo, mas eis ele aí de novo a pedido do professor Tite. A temporada dele no City acabou em título inglês, é verdade, mas não foi das de maior brilho. Se não tivesse mais ninguém disponível a gente até entenderia…
Jogando um pouco mais para frente temos Lucas Paquetá, que fez ótima temporada com o Milan (mesmo com algumas polêmicas sobre indisciplina), é bem jovem e se tornou uma das grandes promessas entre os atletas do país e… Phillippe Coutinho, cujo nível de jogo não para de cair desde que trocou o Liverpool pelo Barcelona.
A impressão que se tem é que o atleta sentiu o baque da mudança, simplesmente não se adaptou ao futebol espanhol e, pior ainda, não é querido nem pela torcida do Barça, nem pela dos Reds. Talvez fosse justamente a hora de deixar o camisa 11 na geladeira um pouquinho e testar outros nomes.
Atacantes
Mais uma vez é impossível fugir de polêmicas. Neymar foi chamado mais uma vez, para surpresa de ninguém, mas pela primeira vez em muitos anos havia dúvida sobre isso, por conta do incidente do soco desferido num torcedor. Ainda assim, Tite se manteve firme e chamou o camisa 10.
David Neres fez bonito demais com a camisa do Ajax na temporada, mesmo tendo sido eliminado com o time nas semifinais da Liga dos Campeões, e certamente merece a nova chance que Tite está dando. Sangue novo é muito bem-vindo, ainda mais quando a fase do atleta ajuda.
Everton (Grêmio) e Firmino são escolhas mais óbvias, e fizeram o suficiente por seus clubes para merecerem a chance de usar a amarelinha de novo. Pode-se dizer o mesmo de Richarlison, do Everton, que vive plena ascensão no futebol inglês e logo pode ir para um dos gigantes europeus.
A polêmica na frente fica por conta de Gabriel Jesus, que fez uma temporada apagada no Manchester City, tendo sido mais usado na Copa da Inglaterra (FA Cup) do que no Campeonato Inglês em si. Não dá pra tirar o mérito de um jogador que foi campeão inglês e está na final da FA Cup, onde mais jogou, mas talvez sacrificar Douglas Costa e, principalmente, Vinicius Jr. para chamá-lo tenha sido cruel demais.
Ausências sentidas
Citamos alguns goleiros que ficaram de fora, mas nenhum gerou realmente surpresa. Mesma coisa os zagueiros e laterais (tirando Marcelo, que perdeu espaço em ambas Seleção e Real Madrid na última temporada). Geromel, Gil, Dedé, Pablo, Felipe, Alex Telles e Danilo, todos corriam por fora. Nas outras posições, porém, a coisa é diferente.
A primeira e talvez mais sentida das ausências está entre os volantes: Fabinho, que fez uma temporada espetacular com o Liverpool (a melhor do time em 30 anos), pode faturar Champions League logo mais e foi essencial para levar os Reds onde eles chegaram. Renato Augusto, Paulinho e William, por outro lado, são todos atletas de confiança de Tite, mas perderam espaço e a ausência não chama tanto a atenção.
Um pouco mais para frente, Douglas Costa ficou de fora da lista de Tite, e a polêmica aí é a questão de “dois pesos, duas medidas”. O atleta teve problemas de disciplina – leia-se cuspiu num adversário – e perdeu a posição. Neymar e Paquetá fizeram coisas similares e olha eles aí. Muita gente sonhou com Dudu recebendo uma nova chance, mas não foi o caso – e talvez o jogador-símbolo do Palmeiras campeão brasileiro merecesse.
Outro que parece ter sido esquecido por Tite depois de uma temporada espetacular foi o meia Felipe Anderson, um dos pilares e provavelmente melhor jogador do West Ham na temporada. O mesmo aconteceu com Vinicius Jr., garoto-prodígio do Real Madrid e que vinha sendo chamado frequentemente. Ou Tite preferiu a experiência, ou gastou toda a cota para jovens com Neres, não sei.
Por fim, a ausência mais comentada (ao lado de Fabinho) foi, de longe, a de Lucas Moura, herói do Tottenham na semifinal contra o Ajax, tendo feito simplesmente os três gols que levaram o time inglês à inédita final da Champions League. Desde que trocou o PSG pelos Spurs, aliás, o ponta experimenta uma verdadeira ressurreição no futebol e está jogando melhor do que nunca. Merecia demais a chance de jogar uma Copa América em casa para provar que pode ser útil à Seleção Brasileira.
