
A bola voltou a rolar na Alemanha neste fim de semana. Foram dois meses de parada e um retorno sem torcida, sem comemorações, mas com emoções. Por isso nada mais normal do que se perguntar: a volta do futebol brasileiro fica mais próxima com esse exemplo europeu?
Não é tão fácil assim.
Ainda há muitas dúvidas
O retorno da Bundesliga não foi algo visto com 100% de aprovação – longe disso aliás -, já que apesar da Alemanha ter passado pelo pior nessa primeira onda do COVID-19, ainda há o temor de novas contaminações e ondas igualmente potentes. Além disso, pensar em futebol e o uso de testes, profissionais e recursos médicos sempre é algo que parece fora de propósito.
Como dissemos aqui, a razão para essa volta é obviamente financeira, já que o dinheiro da televisão é fundamental para os clubes, que já não tem as rendas dos estádios e sofrem com queda de sócios e diminuição da venda de produtos. Poder cobrar esse dinheiro é fundamental. Também há a questão do ânimo, da retomada à normalidade. Ele não pode ser subestimado.
Mas isso tudo acarreta riscos. E se alguém se contamina? E se um clube específico sofre com muitos casos? Ele não joga mais? Como fica sua situação na tabela? Enfim, são discussões nada normais que precisam ser postas à mesa em tempos como este.
Vasco e Flamengo em Brasília
Na terça-feira os dirigentes de Vasco e Flamengo se encontraram com o presidente Jair Bolsonaro em Brasília. Como o Rio está passando pelos seus piores momentos na pandemia e voltar aos treinos é impensável, ambos os clubes exploram a possibilidade de treinar no estádio Mané Garrincha, opção ventilada pelo governador do DF.
Escrevi sobre a volta do Internacional e do Grêmio há alguns dias. O Atlético-MG também se prepara para voltar. Continuo com a mesma opinião: voltar para que? Não estamos nem perto de ter uma queda nos contágios e discutir a volta do futebol brasileiro é quase uma insanidade neste momento.
Como faríamos uma volta?

Vamos ser insanos então. Vasco e Flamengo começam a treinar em Brasília. O Atlético-MG faz o mesmo em BH, que está com números melhores que outras grandes cidades brasileiras. Como ficam os times paulistas? Não ficam, a menos que apareça um “oásis” para eles também.
Mesmo assim, vamos para os jogos. Onde fazemos eles? Como fazemos eles? Viagens estão liberadas com 1000 pessoas morrendo por dia? Permanência em hotéis também?
Na Alemanha as equipes estão sendo testadas a todo momento. Nós não testamos nem as pessoas que chegam nos hospitais com sintomas leves do vírus. Quem vai testar os jogadores? Profissionais de saúde que poderiam estar nas UTIs pelo Brasil? Quem vai comprar os testes? Os clubes de futebol? Como farão isso se existe a dificuldade de logística para trazer esses produtos até quando eles são pedidos por governos e na casa dos milhares.
Assim como não existe volta do torcedor ao estádio a menos que exista uma vacina, não existe volta do futebol em um país onde o contágio é grande, o número de mortos só cresce e a estrutura está completamente saturada.
O Flamengo com essa reunião de hoje mostra mais uma vez como a diretoria atual tem um sério problema para lidar com qualquer questão extracampo. O tanto que Gabigol, Bruno Henrique, De Arrascaeta e Jorge Jesus são gigantes dentro de campo, Rodolfo Landim é minúsculo fora dele. É claro que o Flamengo quer a volta do futebol logo, assim como o Vasco, o Corinthians, o Santos, o Íbis e a Portuguesa do Rio. Mas há coisas muito mais preocupantes neste momento. A falta de noção e humanidade é chocante.