O torcedor do Chelsea que ainda não chegou na casa dos 30 não sabia até hoje qual era o terrível sabor de sofrer uma goleada por seis gols de diferença – levando em conta que a última vez que algo similar aconteceu com os Blues foi no distante ano de 1991, quando o lendário Nottingham Forest do não menos lendário técnico Brian Clough aplicou sonoros 7×0 nos azuis londrinos.
Dá pra dizer que o Chelsea só iria se tornar um time “grande” na metade da década de 2000, quando chegou o dinheiro de Roman Abramovich mas, ainda assim, significa que mesmo quando era apenas um clube comum de Londres ao longo dos anos 90 e começo dos 2000, os Blues nunca haviam sido tão humilhados quanto foram no último domingo (10) diante do Manchester City.
Resta ver o que houve para justificar esse 6×0 acachapante e tentar analisar quais serão os próximos passos do Chelsea, que retorna à Liga Europa ainda nesta semana.
Pavimentando a estrada da desgraça
Trocar o comando técnico de um clube nunca é fácil, levando em conta todo o processo de achar um nome novo adequado, adaptar o elenco ao treinador (e vice-versa) e começar a construir uma equipe que tenha a cara desse novo comandante.
No Brasil, é normal tanto para times grandes quanto menores trocar de técnico como quem troca de roupa. Na Europa, especialmente na Inglaterra, a coisa é diferente: técnicos duram anos e anos, mesmo em meio a períodos difíceis. Não é por acaso que David Moyes (Everton, 11 anos), Arsène Wenger (Arsenal, 22 anos) e Sir Alex Ferguson (Manchester United, 27 anos), alguns dos treinadores mais longevos de todos os tempos, fizeram carreira justamente na Premier League.
Em se tratando de Chelsea, porém, a história tende a ser diferente. Para efeitos de comparação, durante o reinado de Ferguson no United, o Chelsea passou por nada menos que 17 técnicos diferentes (sem contar dois interinos).
Onde queremos chegar com isso é simples: Abramovich e a diretoria simplesmente parecem não ter paciência com técnicos no clube. Não foram poucos os casos de treinadores que levaram o time a grandes momentos e que acabaram demitidos em pouco tempo. Di Matteo ganhou uma Liga dos Campeões e acabou demitido seis meses depois e Antonio Conte caiu pouco mais de um ano depois de ser campeão inglês, por exemplo.
Maurizio Sarri é a bola da vez. Vindo direto do Napoli após fazer uma campanha razoável no Campeonato Italiano (segundo lugar) mas deixar a desejar na Champions (terceiro na fase de grupos) e Liga Europa (eliminado nos 16 avos de final), o técnico pode ser um dos maiores culpados no caso atual do Chelsea. Falta de adaptação do elenco ao estilo de jogo, críticas em público (bem mal vistas) e, em suma, futebol de qualidade duvidosa em campo por enquanto são as marcas que o italiano está deixando em Londres.
O que não está dando certo em Londres?
Falar do técnico é fácil, claro, mas não é ele quem entra em campo. O Chelsea é um clube que costuma movimentar bastante o mercado de transferências, e em 2018-19 não foi diferente. O goleiro Curtois foi embora para o Real Madrid e para seu lugar veio Kepa, um jovem de apenas 23 anos quando foi contratado por obscenos 72 milhões de euros, mas que não está fazendo valer o que foi pago nele. A zaga com David Luiz (aparentemente já acostumado a tomar goleadas), um Gary Cahill envelhecido e nomes como Emerson Palmieri, Zappacosta, Rüdiger, Christensen e Azpilicueta, embora tenham qualidade, estão deixando o torcedor de cabelo em pé.
Pedro já viveu dias melhores com a torcida, Barkley entregou um gol de bandeja para o City, Willian e Giroud costumam viver o céu e o inferno no mesmo jogo e, enquanto jogadores como Kanté, Higuaín e Kovačić muitas vezes salvam o dia, o ídolo mesmo é Hazard. E aqui começa mais um pesadelo, já que o belga pode estar prestes a deixar o Chelsea.
Embora o meio e o ataque dos Blues pareçam melhores, não são eficientes o suficiente para tirar o time do sufoco que vive na Premier League. Um exemplo claro disso é a última sequência de jogos dos Blues: derrota de 2×0 para o rival Arsenal, seguido pela humilhação em 4×0 para o Bournemouth, para depois sacudir a poeira e enfiar 5×0 no lanterna Huddersfield e, quando tudo parecia que ia melhorar…o atropelo do Manchester City, que passou tão rápido que ninguém nem anotou a placa.
É verdade que o Manchester City, ao lado do Liverpool, é o time a ser batido na temporada. Perder não seria vergonha nenhuma. Agora, perder de 6×0 com um placar que já marcava quatro para os donos da casa com menos de 25 minutos de jogo está muito, muito além do que o Chelsea e seu torcedor estão dispostos a aceitar.
Previsões para a Liga Europa no meio da semana
O pesadelo do Chelsea mal acabou e o time já tem que pensar na realidade, porque o Malmö aguarda na Suécia para o jogo de ida dos 16 avos de final da Liga Europa. As odds de Betfair certamente foram afetadas pelo atropelo na última rodada da Premier League, mas continuam bem favoráveis aos Blues. Vitória dos visitantes por 2×1 paga 8 para 1. Se o Malmö levar a melhor por qualquer placar, as odds ficam em 10 para 1.