A imprensa britânica já se fez essa pergunta e inclusive o fato de José Mourinho ainda viver em um hotel na cidade de Manchester, mesmo trabalhando no United há quase dois anos, não ajudou muito a ter uma resposta positiva. Para quem está curioso sobre a razão para o treinador português não ter uma casa, a resposta dele foi basicamente “preguiça” de cuidar de uma propriedade, ainda mais porque moraria sozinho e ficaria mais afastado do centro da cidade. Faz sentido.
Outro episódio envolvendo Mourinho também suscitou dúvidas sobre o prazer do treinador ao trabalhar no United. De forma pública, ele pediu reforços e maior investimento do clube para concorrer com o primo rico Manchester City. Os citizens passaram de patinho feio da cidade para multimilionários, com o dinheiro de um sheik árabe gerando times vencedores de duas Premier Leagues e a caminho da terceira nesta temporada. Pep Guardiola, rival de Mourinho desde que os dois comandavam os maiores clubes da Espanha – Barcelona e Real Madrid respectivamente – tem basicamente todos os seus desejos atendidos e montou um superelenco.
Pois bem, a diretoria ouviu os pedidos do Special One e foram atrás de Alexis Sanchez, atacante chileno do Arsenal, que poderia sair de graça no fim desta temporada com o fim de seu contrato. Entretanto, uma possível pressa para alegrar seu treinador fez o time ceder o armênio Henrikh Mkhitaryan e oferecer a Sanchez um salário que chega a 600 mil libras semanais. O negócio logo deve ser anunciado oficialmente.
Em campo o United com Mourinho faz bom trabalho. Depois de anos esquecíveis com David Moyes e Louis Van Gaal, o português não fez os Red Devils voltar aos anos de Alex Ferguson, mas o segundo lugar na Premier League é merecido. O topo da tabela é do City, que faz campanha irrepreensível e tem doze pontos de frente.
O time ainda voltou para a Champions League após ganhar a Liga Europa em 2016/17 e teve uma das melhores campanhas da fase de grupos, com cinco vitórias em seis jogos. Nas oitavas o United pega o Sevilla e é o favorito no mata-mata.
Os resultados podem até ser bons, mas não são ótimos
Tudo que foi dito pinta uma situação boa no Manchester United. Mas com José Mourinho, dono de um temperamento considerado difícil, as coisas mudam rapidamente. Tanto no Real Madrid como no Chelsea ele saiu queimado com pessoas relacionadas ao clube, seja torcida, imprensa, diretoria ou até jogadores, especialmente na Espanha.
As vitórias curam muita coisa e temos exemplo disso em todos os esportes, em diferentes eras. Mas com Mourinho parece que o desgaste sempre é inevitável. No Chelsea, onde foi um dos grandes responsáveis pelo ressurgimento do clube nos anos 2000 e ainda voltou para ganhar mais um título inglês, ele ficou pouco mais de cinco anos, algo anormal para um treinador vitorioso. Ainda mais no futebol inglês, onde Ferguson ficou mais de duas décadas treinando o United e Arsene Wenger, apesar de não vencer um título de expressão há anos, passou da marca de 20 anos no cargo em 2016.

Portanto, não são as vitórias que fazem Mourinho ficar em um lugar. Vide outra passagem sua, pela Internazionale, onde ganhou tudo e saiu logo depois da conquista da Champions League, sendo contratado pelo Real Madrid. E no United, apesar de ter resgatado o time e trazido de volta para a relevância nacional e continental, seu trabalho não pode ser considerado como brilhante, inesquecível.
Portanto, para responder a pergunta: Mourinho nunca vai parecer feliz e nada impede que sua passagem por qualquer equipe se encerre a qualquer momento. E por isso é tão interessante acompanhar o Special One em suas entrevistas e trabalhos.