Véspera de Copa do Mundo é temporada de arriscar palpites. Afinal, trata-se da competição esportiva de maior visibilidade no planeta. Porém, as previsões raramente escapam de indicar os favoritos de sempre. Faz sentido. Nas dez últimas edições do torneio comandado pela Fifa (Federação Internacional de Futebol), oito tiveram como vencedores seleções que já haviam conquistado um título anteriormente.
Esse percentual de 80% de repetição faz com que os analistas acabem indicando como candidatos ao título apenas seleções que já tenham em sua galeria de troféus uma taça de campeão do mundo. No entanto, tal tendência tem sofrido alteração. Quando são consideradas apenas as cinco mais recentes edições da Copa do Mundo, pode ser notado que dois campeões foram inéditos. Isso aconteceu com a França, em 1998, e com a Espanha, em 2010.
As mudanças no cenário do futebol mundial estão trazendo novas forças e diminuindo o peso de palpites nos chamados “suspeitos de sempre”. Nesse bloco estão as seleções de Alemanha, Brasil, Uruguai e Itália. Essa última, inclusive, sequer conseguiu a classificação para o mundial russo. Os uruguaios não participam de uma decisão desde 1950, quando faturaram seu segundo título.
Europeus se destacam nos palpites de risco
Assim, como diria o jargão empresarial, é preciso pensar fora da caixa. Isso pode até mesmo ser extremamente lucrativo para quem gosta de arriscar apostas ou então de participar dos muitos concursos que são lançados antes do Mundial distribuindo prêmios para quem consegue melhor desempenho nos palpites.
Uma rápida busca nas casas de apostas vai mostrar que praticamente todas elas colocam Brasil e Alemanha como maiores favoritos ao título. Logo a seguir, no segundo bloco, vêm Espanha, França e Argentina. Tudo justificado pelos resultados recentes.
A Copa do Mundo, no entanto, é uma competição curta, de apenas um mês, em que um bom encaixe da equipe é capaz de promover surpresas. Nesse caso, dois são os maiores candidatos a ‘zebra’ no Mundial russo ganhando o título pela primeira fez. Ambos são europeus.
Melhor geração de jogadores da Bélgica chega com mais experiência
A mais forte dessas equipes é a Bélgica. O país tem em atividade, sem qualquer sombra de dúvida, a melhor geração de jogadores de sua história. Eles fracassaram na Copa do Mundo do Brasil, disputada em 2014, mas mostraram amadurecimento desde então e chegam para o torneio de 2018 considerados os maiores candidatos ao título entre aqueles que jamais venceram a competição.
Motivos para isso não faltam. Os belgas têm o pacote completo. Se há quatro anos os olhos dos rivais estavam voltados para anular Eden Hazard, meia do Chelsea, agora, a missão de conter as jogadas em seu nascedouro ficou mais difícil. Kevin de Bruyne, do Manchester City, é certamente o melhor jogador da temporada 2017/2018 da Premier League.
Isso significa mais dores de cabeça para os rivais da Bélgica, que alcançou sem maiores dificuldades sua classificação para o Mundial. Até porque a seleção não se resume aos dois astros. Conta com o seguro goleiro Thibaut Courtois, os experientes zagueiros Vincent Kompany – ainda que com muitos problemas de contusão –, Toby Alderweireld e Thomas Vermaelen; o pitbull Maroune Fellaine para proteger os dois meio-campistas de habilidade; e atacantes que mostram consistência como Romelu Lukaku, Dries Mertens, que exibiu no Napoli sua vocação para artilheiro, Christian Benteke e Michy Batshuayi, que ganhou mais espaço para exibir seus talentos depois que trocou o Chelsea pelo Borussia Dortmund.
Somados a coadjuvantes como Radja Nainggolan, Alex Witsel, Yannick Carrasco, Jan Vertonghen, Mousa Dembelé, Kevim Miralas, entre outros, oferecem muitas opções para o técnico Roberto Martinez. De quebra, ainda caíram em um grupo relativamente fácil na primeira fase, o que pode propiciar até mesmo o primeiro lugar. Terão pela frente a modorrenta seleção da Inglaterra e as equipes de Panamá e Tunísia.
Cristiano Ronaldo tem sua última chance de título
O segundo candidato a ser campeão pela primeira vez é Portugal. Dois são os pilares da inclusão da seleção lusa nessa lista bastante curta. O primeiro, naturalmente, foi a conquista da Eurocopa 2016, na França. O segundo é o fator Cristiano Ronaldo. Múltiplas vezes vencedor do prêmio de melhor atleta do mundo, o atacante do Real Madrid sabe que esta será sua última chance de conquistar um título mundial com a seleção.
Isso foi mostrado claramente quando mudou radicalmente sua postura de disputar todos os jogos em busca de quebrar recordes e mais recordes de artilharia. Passou a aceitar ser poupado nos jogos do Real Madrid preservando-se para os confrontos mais importantes. Assim, deve chegar ao mundial russo em melhores condições do que na Copa do Brasil, onde não conseguiu apresentar bom desempenho devido a problemas físicos. Pode ser seu canto do cisne.
O sorteio da Copa do Mundo de 2018 deu a Portugal a possibilidade de ter, ao menos em teoria, uma primeira fase para treinamento. Ao lado de Espanha, Irã e Marrocos, dificilmente deixará de avançar. Assim, o experiente técnico Fernando Santos poderá até mesmo testar opções para os estágios decisivos.
Azarões vêm da América do Norte e África
Ir além nessa busca por seleções que possam alcançar o título parece ser uma procura inútil. Daquele bloco de equipes que são classificadas como azarões, apenas duas indicam que podem promover algumas surpresas, mas, mesmo assim, não oferecem consistência suficiente para que possam ser colocados no grupo de candidatos reais a surpreender.
Uma delas é a seleção do México, que conhecida pela famosa manchete “jogamos como nunca e perdemos como sempre”. O time evoluiu sob o comando do técnico colombiano Juan Carlos Osorio. Alcançou sua classificação para o Mundial com extrema facilidade. Contudo, também foi capaz de produzir vexames como a goleada por 7 a 0 diante do Chile na Copa América de 2016. Embora tenha alguns jogadores bons tecnicamente, os mexicanos acabam pecando no jogo coletivo e, por isso, jamais superaram a fase de quartas de final de uma Copa do Mundo.
Egito tem condições de desbancar os donos da casa
Na Copa do Mundo de 1990, que foi disputada na Itália, o planeta foi apresentando ao futebol africano. Depois de uma campanha surpreendente de Camarões, comandada pelo veterano atacante Roger Milla, passou a se esperar uma participação melhor das equipes do continente nos mundiais.
A visibilidade aumentou, os jogadores africanos ganharam mais espaço em clubes europeus, mas a evolução não aconteceu. As equipes africanas seguem mostrando-se extremamente dependentes de um jogador acima da média para conseguir boas campanhas. É isso que acontece para o próximo mundial.
O atacante Mohamed Salah, do Liverpool, tem sido um dos grandes nomes entre as dezenas de craques que povoam os estádios da Premier League. Ele mostrou capacidade para conduzir o Egito à classificação para o Mundial de 2018 e tem condições técnicas para repetir a façanha promovida por Roger Milla. Os egípcios estão em um grupo que não apresenta grandes complicações técnicas. Dividem a chave com Arábia Saudita, Rússia e Uruguai. Em tese, podem até disputar a liderança com os uruguaios.
O problema, nesse caso, pode ser o apito. As seleções da casa muito frequentemente contam com grande simpatia dos árbitros. Só esse aspecto faz com que a Rússia, que passou a última década com futebol abaixo da linha do medíocre, não seja descartada na briga pela vaga na segunda fase.
Porém, se Salah conseguir driblar os rivais e os apitadores, poder entrar em uma seleta galeria de craques que deixaram seu nome marcado em “times de um homem só” que chegaram ao título mundial. Embora essa análise certamente contenha algum exagero, pode ser aplicada pela Argentina de Maradona, campeã em 1986, no México, e para a seleção brasileira de Romário, vencedora do Mundial de 1984, nos Estados Unidos.