Uma coisa que o Brasil difere muito da Europa no quesito futebol é o número de times diferentes que levantam canecos por aqui comparados com os que o fazem por lá. Nos principais campeonatos europeus, existem quase sempre dois ou três times que dominam a liga por anos, ganhando títulos consecutivos até dizer chega – bem diferente do Brasil, que já teve 17 campeões diferentes em apenas 60 anos de campeonato.
Por outro lado, é bem difícil ver um dos chamados “azarões” vencendo títulos do Campeonato Brasileiro. Talvez o último que possamos dizer que chegou lá foi o Athletico-PR, que de maneira nenhuma pode ser chamado hoje em dia de time pequeno. Na Europa, porém, a coisa é diferente.
Nesta lista especial, reunimos 10 clubes que surpreenderam a todos, incluindo a si mesmos, conquistaram grandes taças dos campeonatos que disputaram no século XXI e entraram para a história como times que superaram todas as adversidades para atingir a glória máxima!
10. Feyenoord (Campeão da Copa da UEFA 2001-02)
A Liga Europa parece fadada a ter para sempre a fama de “segundona” da Champions. Por outro lado, esse torneio é o momento de glória para muita gente que por vezes amarga uma fila enorme de títulos no seu campeonato nacional e/ou que dificilmente conseguiria levantar a Liga dos Campeões em si.
Esse pode ser o caso do Feynoord, que forma junto com PSV e Ajax o grupo dos três grandes da Holanda, mas que sempre ficou na lanterna entre eles quando o assunto é sucesso. No começo dos anos 2000 o clube ainda sentia o gostinho de ter comemorado a taça da Eredivise da temporada 1998-99, mas não sabia o que era ganhar um torneio continental desde seu troféu da então Copa dos Campeões da Europa, atualmente UEFA Champions League, em 1970.
O time do Feyenoord que venceu a Copa da UEFA (o nome Liga Europa foi instituído em 2009) em 2001-02 chegou aos trancos e barrancos à taça, mas eliminou gente como seu rival PSV e a Inter de Milão no caminho para a final.
Na decisão, aguardava um Borussia Dortmund recheado de craques como Lehmann, Rosicky e Amoroso, entre outros. Os holandeses venceram por 3×2 e conquistaram um título improvável e lembrado com carinho até hoje por seu torcedor.
9. Boavista (Campeão da Primeira Liga de Portugal, 2000-01)
Vamos combinar que o Campeonato Português não é exatamente sinônimo de máxima qualidade ou glamour, mas vez ou outra surge uma grande equipe na Terrinha para a qual temos que tirar o chapéu.
Como os Três Grandes (Benfica, Porto e Sporting Lisboa) dividiram todos os títulos desde 1946, foi uma surpresa enorme ver um intruso levantando a taça da Primeira Liga em 2000-01. O azarão da vez foi o Boavista, cuja defesa fantástica sofreu apenas 22 gols em 34 partidas (sendo apenas seis em casa, onde o time era rei) e foi a grande responsável pelo sucesso do clube na temporada.
Nomes como o goleiro Ricardo, Frechaut e Petit foram convocados para a Seleção Portuguesa e jogaram Copa do Mundo, além de, é claro, também entrarem para a história dos Panteras Negras, que infelizmente não conseguiram acompanhar o nível dos gigantescos rivais e acabaram vendendo quase todas as peças nas temporadas seguintes. Um timaço que deixou saudades!
8. Twente (Campeão da Eredivise da Holanda, 2009-10)
Assim como falamos ali atrás sobre o Campeonato Português, a Eredivise holandesa é outra competição dominada por três grandes clubes que dividem quase todos os títulos entre si. Há menos de 10 anos, porém, um estranho despontou nos Países Baixos e calou torcedores de PSV, Ajax e Feyenoord.
O grande mérito daquele time do Twente era sua defesa, especialmente em casa, onde o time venceu todos os jogos, levando apenas 10 gols. Mesmo duelando longe do seu estádio, o time de Enschede era um adversário azedo de se enfrentar e só foi derrotado duas vezes: pelo gigante Ajax e pelo então campeão, AZ Alkmaar.
Uma das edições mais dramáticas da Eredivise que já houve até hoje, o campeonato foi disputado ferozmente e terminou com o Twente em primeiro com apenas um pontinho de vantagem sobre o Ajax.
O ataque do time de Amsterdam, ainda com um Luis Suárez em plena ascensão, marcou absurdos 106 gols, mas não foi o suficiente para desbancar o Twente do seu primeiro e até agora único título holandês. Uma pena ver os Tukkers na segundona da Holanda hoje em dia, mas um retorno à elite no ano que vem parece bem próximo!
7. Valencia (Campeão de La Liga, 2003-04)
As gerações mais jovens olham para a Espanha e enxergam um campeonato de dois times, com Barcelona e Real Madrid papando todos os títulos. Na melhor das hipóteses, aparece um Atlético de Madrid de vez em quando para fazer parecer que há disputa real, mas é só.
No início da década passada, porém, a coisa era diferente. Nos cinco primeiros anos dos anos 2000, três times diferentes venceram La Liga (e nenhum foi o Barça!). Falaremos do espetacular título da temporada 1999-00 daqui a pouco, mas aqui é a vez de prestarmos as honras ao sensacional time do Valencia de 2003-04.
Comandado pelo então desconhecido Rafa Benítez, aquele time contava com algumas camisas de entortar varal, incluindo aí Ricardo Oliveira no auge, medalhões como Cañizares no gol e Ayala na defesa e ainda jovens que se tornariam jogadores consagrados dali em diante, como Raúl Albiol, Gavilán e Pablo Aimar. Não à toa o Valencia foi campeão com o segundo melhor ataque, a melhor defesa e, de brinde, faturou também a taça da Copa da UEFA (atual Liga Europa).
6. Wolfsburg (Campeão da Bundesliga, 2008-09)
Faz 10 anos que apenas Bayern e Borussia Dortmund sabem o que é ser campeão da Alemanha. Na temporada 2008-09, porém, um time jovem e audacioso roubou a atenção de todos e acabou se sagrando campeão. Estamos falando, claro, do Wolfsburg.
Fundado no mesmo ano em que a Segunda Guerra Mundial terminou, os Wolves eram um time de terceira divisão até meados dos anos 90. Uma rápida ascensão ao longo daquela década e da seguinte e o time já estava na Bundesliga e disputando competições europeias.
Sob o comando do ex-Bayern de Munique Felix Magath, o time verde e branco atingiu a glória máxima levantando o caneco do Campeonato Alemão depois de uma temporada impecável, no qual estabeleceram um recorde de 10 vitórias consecutivas e marcaram 80 gols, se tornando o melhor ataque da competição.
A linha de frente daquele time do Wolfsburg, aliás, contava com dois monstros: o brasileiro Grafite e o bósnio Edin Džeko, responsáveis por 28 e 26 gols do time no campeonato, respectivamente. O também bósnio Zvjezdan Misimović, rei das assistências (20 no total) foi igualmente essencial para que o Wolfsburg conquistasse seu primeiro e até agora único título alemão. Ah, e ninguém mais ousa chamar os Lobos de clube pequeno.
5. Deportivo La Coruña (Campeão de La Liga, 1999-00)
Se ao falarmos de um Valencia campeão já podemos espantar os jovens fãs do Campeonato Espanhol, que dizer de um time que passou a última década subindo e descendo de divisão praticamente toda temporada e hoje em dia amarga a quarta posição da segundona? É o caso do Deportivo La Coruña, que fez os gigantes tremerem na base na primeira temporada de futebol do milênio na Espanha.
Eram tempos completamente diferentes, é preciso dizer (vide os rebaixamentos da temporada: Atlético de Madrid e Sevilla), mas isso não tira o brilho da conquista do Deportivo – que, aliás, havia chegado em segundo ou terceiro em La Liga em nada menos que quatro ocasiões nos anos 90.
Liderado pelo atacante holandês Roy Makaay, responsável por 1/3 de todos os gols do time no campeonato (22 de 66) e contando com gente do naipe dos brasileiros Djalminha e Mauro Silva e do português Pauleta, o La Coruña deixou para trás o Barcelona de Rivaldo, Pep Guardiola e Luís Figo, entre outros, e se sagrou campeão merecidamente, com 5 pontos de vantagem para ambos Barça e Valencia. Tempos de glória que não voltam mais, pelo jeito.
4. AZ Alkmaar (Campeão da Eredivise da Holanda, 2008-09)
Já falamos sobre a conquista inédita do Twente na Eredivise de 2009-10, mas também é importante falar do time campeão no ano anterior, um timaço que quebrou 27 anos de hegemonia dos três grandes do país: o AZ Alkmaar, comandado por Louis Van Gaal.
No ataque, o time contava com a dupla letal Mounir El Hamdaoui e Mousa Dembélé, mas o grande trufo do AZ naquela temporada era sua defesa, vazada apenas 22 vezes em 34 jogos, muito em parte graças ao goleiro argentino Sergio Romero vivendo seu auge, mas não apenas ele. No final do campeonato, o AZ era campeão com 11 pontos a mais do que o Twente, que já batia na trave em busca de seu troféu, 12 acima do Ajax e 15 na frente do então campeão PSV.
A glória do clube de Alkmaar fez Van Gaal recuperar seu antigo prestígio e, na temporada seguinte, o holandês já estava comandado o Bayern de Munique, o qual só seria parado na final da Champions League pela a Inter de Milão de José Mourinho.
3. Montpellier (Campeão da Ligue 1 da França, 2011-12)
Foi só nos anos mais recentes que o Campeonato Francês passou a ser considerado um dos grandes da Europa (ao lado do Inglês, Alemão, Italiano e Espanhol), ascensão essa que tem um paralelo com a ascensão/investimento massivo do Paris Saint-Germain.
Antes disso, o Francês era um campeonato bem equilibrado (embora o Lyon tenha vencido, sozinho, oito dos dez títulos da década de 2000).
No início da década atual, porém, surgiu um azarão ninguém sabia de onde, sem grandes estrelas e que havia subido da segundona do Campeonato Francês apenas em 2009. Tratava-se do relativamente jovem Montpellier, fundado em 1974 (mais novo que o próprio PSG) e que assombrou os franceses com seu futebol ofensivo e eficiente em 2011-12.
Numa época em que nomes como Aubameyang (Saint-Étienne) e Hazard (Lille) ainda jogavam nos campos franceses, a glória de artilheiro e principal responsável pelo título do Montpellier na temporada recaiu sobre o então desconhecido Olivier Giroud, responsável por 21 gols do clube do sul do país. Depois ele foi para o Arsenal (agora no Chelsea), passou a ser convocado para a Seleção Francesa e atualmente é campeão do mundo – e o resto é história.
2. Porto (Campeão da Liga dos Campeões da Europa, 2003-04)
Já citamos alguns técnicos neste especial que foram talvez os grandes responsáveis pelo sucesso dos seus times, mas a lista estaria incompleta se deixássemos de lado a temporada e o time que catapultaram José Mourinho para o sucesso absoluto no mundo da bola: sua campanha com o Porto em 2003-04.
Com um elenco majoritariamente português, o Porto fez história naquela temporada se tornando o primeiro time de fora das quatro grandes ligas da época em mais de 10 anos a conquistar a Champions. O elenco contava com nomes que se tornariam estrelas lusitanas imediatamente, incluindo aí Ricardo Carvalho, Nuno Valente, Deco e Maniche, além do brasileiro Carlos Alberto e do sul-africano Benni McCarthy – ambos responsáveis por gols na inesquecível final contra o Monaco, vencida por 3×0 pelos Dragões.
Infelizmente, a glória dos portugueses na Europa viu ali seu auge, já que Mourinho foi embora para o Chelsea na temporada seguinte e levou muita gente essencial com ele. A memória do título mais importante da história do Porto, porém, nunca vai se apagar da mente dos torcedores e fãs de futebol como um todo.
1. Leicester City (Campeão da Premier League, 2015-16)
O vencedor da nossa lista está aqui por alguns motivos especiais: seu elenco humilde, sua ascensão meteórica (sem a injeção de bilhões de origem duvidosa) e, principalmente, o fato de que o campeonato que disputou e venceu é o mais difícil e competitivo do mundo. Ouro para o Leicester, campeão da Premier League de 2015-16!
Claudio Ranieri, técnico dos Foxes naquela temporada inesquecível, já era um veterano quando assumiu o pequeno clube do centro da Inglaterra em 2015, já tendo passado por gente como Chelsea, Juventus, Roma e muitos outros, mas sua moral estava em baixa e a contratação foi recebida com muitas críticas. Os críticos iriam morder a língua de maneira espetacular em poucos meses.
Talvez o grande segredo do Leicester para ter vencido aquela Premier League fosse sua consistência inacreditável – não apenas nos jogos, mas também desde a escalação. Acontece com pouquíssimos clubes, mas o elenco dos Foxes de 2015-16 é daqueles que pode ser enumerado de cor por muita gente, já que a escalação mudava muito raramente e se tornou emblemática: Schmeichel; Fuchs, Huth, Morgan e Simpson; Albrighton, Kanté, Drinkwater e Mahrez; Okazaki e Vardy.
A campanha do time azul foi irrepreensível, perdendo apenas para o Arsenal (duas vezes) e para o Liverpool. O resto foram 13 empates e 23 vitórias para um time que podia não saber jogar bonito, mas era eficiente demais em praticamente qualquer jogo. Levantou a taça da Premier League com merecida vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado e entrou para a história. Mesmo tendo sido aos poucos desmanchado nas temporadas seguintes, aquele Leicester fica com nosso primeiríssimo lugar e terá para sempre um lugar especial entre os times lendários do futebol moderno.