Observação sagaz: nesta vida, tudo só pode ser mensurado através de comparativos. Alguém que nunca teve que cuidar sozinho da própria casa pode ficar em choque com o dinheiro que é necessário para comprar o mínimo de produtos de limpeza que deixem o banheiro com cheiro melhor do que o de uma rodoviária, uma vez que até então tudo parecia estar limpo como por mágica.
Depois dessa analogia com a profundidade de um aluno do ensino fundamental, vamos ao que importa: o torcedor do Bayern de Munique tem razão em estar se sentindo tão frustrado quanto está nesta temporada? Óbvio que sim.
A resposta, claro, se justifica através da historinha que foi contada ali em cima. Quem vinha de seis títulos nacionais consecutivos e agora amarga a segunda posição na Bundesliga tem mais do que razão para reclamar do desempenho do time – que ainda assim é excelente, mas talvez não excelente o suficiente para uma torcida, digamos, “mal-acostumada” com a ideia de que título todo ano é natural, e não mérito. Não muito diferente do que acontece com a Juventus na Itália ou mesmo com o Real Madrid na Espanha, por exemplo.
Se o Bayern esperava mais uma temporada “naturalmente” vencedora, veio o Borussia Dortmund mais sanguinário do que o porteiro do ENEM e fez o torcedor do time da Baviera se questionar: o que estamos fazendo de errado?
Por que o Bayern ainda não engrenou nesta temporada?
É verdade que o Bayern de Munique tem uma torcida gigantesca e apaixonada, mas muita gente no mundo do futebol europeu odeia os Bávaros porque, a exemplo de clubes como Barcelona, Manchester City e Real Madrid, o time do sul da Alemanha tem o costume de comprar todo e qualquer jogador que se destaque nos rivais. Mario Götze, Hummels e Lewandowski são ótimos exemplos, já que todos foram campeões com o Borussia Dortmund em 2011/12 e, um a um, acabaram na Allianz Arena.
Técnicos badalados também não são novidades para o Bayern de Munique, que só nos últimos anos foi comandado por nomes extremamente vitoriosos como Pep Guardiola, Jupp Heynckes e Carlo Ancelotti. O atual treinador, Niko Kovač, não é um peso-pesado do banco de reservas e pode ser uma das causas do desempenho fraco do time. Mas certamente é injusto colocar tudo na conta do jovem técnico, levando em conta que quem toma decisões de contratar e dispensar jogadores é a diretoria, via de regra.
Um dos pontos essenciais que evidencia o declínio de qualidade técnica do Bayern é justamente o declínio natural da idade dos jogadores. Aquele time que era espinha dorsal para a seleção alemã de 2014, campeã aqui no Brasil, já faz parte do passado. Dos 11 titulares do 7×1, por exemplo, simplesmente 7 eram atletas do clube da Baviera, mas apenas três continuam no clube hoje em dia, e dois deles já têm mais de 30 anos.
Muita gente grande foi embora: Lahm, Schweinsteiger, Kroos e Götze. Outros simplesmente começaram a sentir a idade pesando e já não são as máquinas de futebol-arte de antes, como Robben e Ribéry. Isso é natural e não é um problema; o problema é não saber repor com sabedoria.
Lewandowski ainda é rei quando o assunto é balançar as redes, vide seus 10 gols na Bundesliga até o momento, mas o polonês já completou 30 anos e não vai durar para sempre, assim como o vice artilheiro, Thomas Müller, que completa 30 este ano. Quando eles não forem mais titulares, quem será? Sandro Wagner se mostrou uma contratação desastrada, não fez nenhum gol e é mais velho que ambos. Serg Gnabry é um jovem de 23 anos, fez quatro gols no campeonato alemão, mas sozinho não pode tirar o Bayern do marasmo em que se encontra.
Como dissemos e não custa repetir: o desempenho do clube, no final das contas, não é ruim. Segundo lugar na Bundesliga com apenas seis pontos de desvantagem para o líder (e mesmo número de gols sofridos) não deveria envergonhar ninguém…menos o Bayern.
Ver o Borussia na frente e ganhando consistentemente é cruel para qualquer torcedor dos bávaros, ainda mais depois de o próprio Bayern sair derrotado do conflito direto no Signal Iduna Park. Ouvir do técnico Kovač que ter sido sorteado para pegar o Liverpool nas oitavas da Liga dos Campeões foi a pior sorte possível também não ajuda a levantar a bola de um time que está acostumado a ser temido e jamais a temer.
Se serve de consolo para a torcida do Bayern, as odds em Betfair ainda estão ótimas para o time. Quando a Bundesliga retornar, o Bayern pega o Hoffenheim fora de casa. Vitória do time de Munique por 1×0 está pagando 10 para 1.
A Bundesliga retorna na semana que vem, dia 18, justamente com o jogo citado acima. O Hoffenheim é o sétimo colocado e pode ser um ótimo teste para o Bayern de Munique ver se as férias de Natal serviram para melhorar o moral do time e seu desempenho em campo. A única certeza é que, se as coisas continuarem medíocres como estavam, o Borussia Dortmund (e talvez até o Mönchengladbach e o RB Leipzig) vão continuar rindo à toa.