
Com a temporada no Velho Continente se encaminhando para sua fase final, é natural começarmos a olhar para trás e refletir sobre quem fez bonito e quem não foi tão bem assim ao longo dos últimos meses.
Compilamos aqui as dez das maiores surpresas que a temporada europeia nos reservou até agora, sejam elas para o bem ou para o mal. Não vamos falar apenas de times, mas de treinadores também, uma vez que, como vai ficar fácil perceber, foi perfeitamente possível o técnico ter uma grande temporada e o time nem tanto – e vice-versa.
As belas surpresas
Teve gente que ninguém esperava nada no início da temporada e, para alegria do seu torcedor, hoje só tem o que comemorar, ou então que começou desacreditado e hoje bota medo nos rivais. Confira:
Liverpool

Não é que ver o Liverpool vivendo um grande momento deva surpreender alguém – a questão é que fazia muito tempo que isso não acontecia. Vamos tomar a liberdade aqui de chamar a campanha do Liverpool de surpresa, mas a verdade é que, quando chegou ao clube, o técnico Jürgen Klopp pediu justamente três temporadas para formar um time competitivo – e isso foi três temporadas atrás.
Os Reds estão disputando ponto a ponto com o atual campeão Manchester City a que será possivelmente a Premier League mais emocionante da década (ou ao menos uma delas). Note que o City não está aqui, porquê, bem, sendo milionário e tendo o elenco que tem, brigar por título todo ano não é mais do que obrigação.
O Liverpool, por sua vez, pode também ser rico e poderoso, claro, mas foi buscar entrosamento e qualidade através do treino, usando muitas peças que já tinha e até se valendo de atletas antes desacreditados (vide Salah). É verdade que um Alisson e um Van Djik recém-contratados não fazem mal ao elenco antigo, mas…
Wolverhampton
Vamos parafrasear a Disney um pouquinho, fazendo a adaptação da frase para nosso tema do dia: nem todos podem proporcionar uma grande surpresa, mas uma grande surpresa pode vir de qualquer lugar. Eis aí o mantra do Wolverhampton nessa temporada, na qual os Wolves conquistaram, merecidamente, o título de “Carrascos do Big Six”.
A vitória surpreendente dos Lobos sobre o poderoso Manchester United na última rodada do Campeonato Inglês quase não assustou, porque o time do técnico Nuno Espírito Santo (esse digno de uma estátua na frente do Molineux Stadium) se tornou especialista em fazer os gigantes tropeçarem.
Vitórias sobre Chelsea (em casa), United (em casa) e Tottenham (fora) e empates contra Arsenal e novamente United e Chelsea ajudaram e muito o time a chegar à excelente sétima colocação, onde se encontram agora.
Com um pouco de sorte, o time das Midlands pode acabar jogando até a Liga Europa da próxima temporada – e seria totalmente merecido.
Unai Emery

Eis nosso primeiro técnico, e não time, da lista. O espanhol Unai Emery chegou para dirigir o Arsenal depois de o clube vivenciar 22 anos de Arsène Wenger, o que por si só é uma responsabilidade de tamanho colossal. Emery não apenas aceitou essa responsabilidade, como está fazendo um trabalho digno de aplausos sob muitos aspectos.
Quem está aqui é o técnico, e não o time, porque o Arsenal é grande demais para dizer que um campeonato no qual disputa, na melhor das hipóteses, apenas o terceiro lugar, seja um campeonato de sucesso. Emery, porém, já conquistou até o momento a mesma pontuação na Premier League desta temporada que Wenger na temporada passada inteira – 63 pontos.
O aproveitamento contra adversários grandes também melhorou demais, com o Arsenal conquistando 12 de 30 pontos possíveis contra patéticos 6 de 30 na temporada passada.
Vale ainda lembrar que, por estar substituindo uma verdadeira lenda do Arsenal, as cobranças em cima do técnico espanhol são ainda maiores do que o normal. E se pensarmos numa situação semelhante, quando Sir Alex Ferguson se aposentou do Manchester United e o clube virou a bagunça que é até hoje, Emery merece ainda mais créditos pelo trabalho que tem feito.
Ole Gunnar Solskjaer

Falando em Manchester United, as temporadas passadas desde a aposentadoria de Sir Alex Ferguson não foram exatamente as mais felizes do time. Vieram boas vitórias e até títulos como Liga Europa e Copa da Liga Inglesa, mas o velho United papa-títulos de Premier League e que botava medo em qualquer um na Champions parecia adormecido – até a chegada de Solskjaer.
O verdadeiro pesadelo que foi o fim da gestão de José Mourinho (de quem falaremos daqui a pouco) pareceu se dissolver magicamente diante dos olhos do torcedor Red Devil quando o ex-atacante norueguês queridinho de todos em Old Trafford assumiu o comando do clube, em dezembro de 2018.
As medíocres sete vitórias (nenhuma contra os grandes) e outros cinco empates e cinco derrotas (destas dez, cinco perante os grandes) de Mourinho deram lugar a incríveis 12 jogos de invencibilidade no Campeonato Inglês e a gloriosa vitória contra o PSG nas oitavas da Champions – abrindo caminho até as quartas, naturalmente – de Solskjaer. O trabalho do norueguês impressionou tanto em Old Trafford que a diretoria resolveu efetivá-lo no cargo – a intensão inicial era contratar outro treinador (um nome de peso, de preferência). O United pode não merecer estar entre as nossas boas surpresas, mas Solskjaer merece, e muito.
Getafe
Um time que, há apenas dois anos, estava disputando a fraquíssima segundona do Campeonato Espanhol e que, no presente momento, está na zona de classificação para a próxima UEFA Champions League na primeira divisão e perseguindo ninguém menos que o Real Madrid mereceria, só por essas informações, uma salva de palmas calorosa. O Getafe talvez nunca tenha feito seu torcedor tão feliz quanto faz agora.
O nome por trás do sucesso recente do Getafe é o do técnico José Bordalás, que pegou o time na segunda divisão, subiu e está quase conquistando a vaga na Liga dos Campeões – algo praticamente utópico para o torcedor do time, que nunca conquistou um trofeuzinho sequer.
Com uma defesa extremamente sólida (melhor que a de ambos Barcelona e Real Madrid), o Getafe é sem dúvida uma das grandes surpresas positivas da temporada – e, quem sabe, será da temporada seguinte também!
As surpresas negativas
Enquanto muita gente impressionou principalmente quem tinha pouca expectativa, o oposto também aconteceu: times e treinadores de quem muito se esperava e acabaram decepcionando, uns mais, outros menos, mas todos deixaram o torcedor insatisfeito, sem dúvidas.
José Mourinho

Talvez seja cedo para bater o martelo, mas já tem muita gente dizendo que o tempo de Mourinho passou. É natural, tanto no esporte como na vida de maneira geral, existirem períodos claros de ascensão, alguns de estagnação e, eventualmente, de declínio. O fato é que, no caso do português, isso aconteceu de maneira clara e acentuada demais.
Desde o double Premier League e Taça da Liga Inglesa conquistados pelo Chelsea em 2014-15, Mourinho nunca mais conseguiu repetir seu desempenho que lhe renderam fama e o apelido “Special One”. É verdade que o treinador levou uma Europa League e uma Copa da Liga Inglesa pelo United, mas ficou sendo muito pouco para um time daquele porte – que contratou o português na qualidade de um dos melhores do mundo para tentar, finalmente, preencher a lacuna gigantesca deixada por Ferguson. Não deu certo.
Assim como aconteceu no Chelsea, Mourinho pareceu rachar o elenco do United, criou situações de puro climão com a imprensa e os próprios jogadores, viu o rendimento do time cair, perdeu para rivais e acabou demitido antes da virada do ano. Atualmente desempregado, o Special One só quer que essa temporada acabe logo.
Real Madrid

Quando Zidane anunciou sua saída do Real Madrid após a conquista do terceiro troféu consecutivo da Liga dos Campeões da Europa, pouca gente na capital espanhola ficou realmente preocupado com o futuro imediato do clube – afinal, Zizou fora apenas mais um bom técnico na trajetória absurdamente vitoriosa do clube e poderia ser facilmente substituído. Estavam redondamente enganados.
Os meses sem o francês foram os piores que o Real vivenciou em uns bons anos, com seguidas humilhações perante o arquirrival Barcelona em ambos Campeonato Espanhol e Copa del Rey, eliminação vexatória na Champions League dentro de casa para o Ajax, ainda nas oitavas de final, e seguidos tropeços em La Liga, tendo sido derrotado por times mais humildes como Alavés, Levante e Girona.
A surpresa, de fato, fica por conta da incapacidade dos Merengues se erguerem sem a mágica de Zinedine Zidane. Não esperaram nem até o fim da temporada e eis aí o carequinha francês de volta ao Santiago Bernabéu.
Villarreal
É sempre bom lembrar que surpreender para bem ou para mal só faz sentido sob a perspectiva correta sobre cada situação, cada time, cada técnico. O Real Madrid está em terceiro no Espanhol e é uma surpresa negativa, enquanto que o Getafe, o quarto, surpreendeu para bem. Agora, o que o Villarreal tem feito nessa temporada, independente do ângulo pelo qual se aborde, é vergonhoso.
Ainda vivo na disputa pela Liga Europa (o único mérito do Submarino Amarelo na temporada), o Villarreal tem que se cuidar no Campeonato Espanhol, onde está a apenas uma posição da zona de rebaixamento. Para quem terminou as últimas cinco temporadas sempre em 6º lugar ou melhor, flertar com a segundona é bem abaixo do que o time esperava. 12 derrotas no campeonato, três trocas de técnico e a real chance de cair fazem da temporada atual um pesadelo para o pequeno, mas bem-sucedido, time de Castellón.
Monaco

Tudo bem que o Campeonato Francês não é dos mais competitivos da Europa (embora seja grande, é claro), mas ver o atual vice-campeão passar praticamente a temporada inteira entrando e saindo da zona de rebaixamento é mais surpreendente e trágico para o torcedor do que seria minimamente aceitável. É justamente essa a situação do Monaco.
Com quatro mudanças de técnicos dentro de uma única temporada, o clube do principado de mesmo nome conseguiu a proeza de emendar 12 jogos sem vencer na Ligue 1, foi humilhado no seu gripo da Liga dos Campeões, ficando em último, com um único pontinho, e atualmente está a apenas duas posições da zona de rebaixamento.
Há quem diga que o responsável por toda essa desgraça foi o técnico Thierry Henry, que viu seu time perder 10 dos 21 jogos que disputou sob sua batuta. O fato é que o lendário francês acabou demitido em janeiro, o Monaco luta para escapar da degola até agora e o torcedor quer esquecer que essa temporada existiu.
Schalke 04
Para terminar, vamos falar de mais um clube tradicional que só quer que essa temporada acabe logo: o Schalke 04, da Alemanha.
Atual vice-campeão da Bundesliga, o time de Gelsenkirchen está fazendo uma campanha vergonhosa em todas as competições que disputa. Para começar, o Schalke teve a moral de ficar na lanterna do Campeonato Alemão por um bom tempo, tendo perdido as cinco primeiras partidas consecutivas da Bundesliga. Entre o fim de janeiro e o meio de março, foram outros oito jogos sem vitória, com o time sendo eliminado da Champions League pelo Manchester City pelo violento placar agregado de 10×2.
Depois de tanto levar porrada por todos os lados, o que resta ao torcedor Azul-real é esperar que a temporada termine sem maiores danos e sem acabar visitando a segundona, coisa que o Schalke 04 não faz desde 1992.