O futebol inglês vai continuar dominando a Europa?

Botar um título desse logo de cara é pedir pra tomar voadora virtual dos leitores, mas eis aí um fato, na opinião deste que vos fala. Este texto, aliás, marca o primeiro de uma série especial que faremos com opiniões “polêmicas” ou, ao menos, pouco ortodoxas do ponto de vista jornalístico. Discordar é natural, então manda ver nos comentários!

Atuais campeões de tudo – e vices também

Não precisamos lembrar que, poucos mais de 3 meses atrás, quatro ingleses faziam as finais de ambas Liga dos Campeões e Liga Europa, sem contar que, dos seis times participantes das duas competições, todos chegaram, sem exceções, pelo menos, até a fase quartas de final.

Isso por si só mostra um domínio absurdo e sem precedentes de um país só nas competições continentais, mas ao mesmo tempo é bom lembrar que, tendo sido ano passado um ano de Copa do Mundo, a Seleção da Inglaterra deixou muito a desejar.

Na ocasião os ingleses chegaram até as semifinais, tudo bem, onde não chegavam desde 1990, mas a obrigação era ter sido, no mínimo, finalistas, e não os quartos colocados. Perder para a Croácia valendo vaga na finalíssima contra a eterna rival França é inadmissível – mas como isso se relaciona ao domínio dos clubes no continente? Qualquer criança responde: estão cheios de estrangeiros.

Tirando a exceção que é o Tottenham, o sucesso dos clubes ingleses talvez resida justamente em investir pesado em talento estrangeiro, servindo até como um polo de atração para atletas do mundo todo, incluindo europeus continentais. Mas nem sempre foi assim.

O sucesso de hoje

Robertson e Dele Alli são dois ingleses ainda jovens e que chegaram longe demais com seus times na Liga dos Campeões. Investir na base trouxe muito sucesso para os clubes

A Premier League como conhecemos hoje existe desde 1992, e foi a partir daí que os ingleses voltaram a ter relevância no cenário continental, ainda que aos poucos. Depois dos desastres de Heysel (1985) e de Hillsborough (1989), ambos envolvendo o Liverpool, as coisas começaram a mudar pra valer na Terra da Rainha.

O Hooliganismo foi aos poucos perdendo força, a punição de banimento dos times ingleses de competições da UEFA chegou ao fim em 1990 e a era moderna do futebol começou pra valer. Com regras mais rigorosas de segurança e um nível de profissionalismo inédito, os times ingleses foram aos poucos ganhando relevância na Europa e atraindo jogadores do mundo todo, incluindo sul-americanos, africanos e asiáticos, que nunca haviam tido espaço no país antes.

Essa nova remessa de talento, combinado com investimentos cada vez maiores e o natural aumento de qualidade do espetáculo em si proporcionaram uma ascensão incrível do futebol inglês perante o mundo, principalmente ao longo dos anos 90 e 2000.

A consequência natural desses fatos é que, depois de anos e anos de protagonismo, os times ingleses, mesmo os que não são necessariamente patrocinados por mecenas como os de Chelsea e Manchester City, se tornaram gigantes europeus papa-títulos, ou ao menos sérios competidores.

Para a Champions League atual, por exemplo, os favoritos em Betfair são os Citizens, cujas odds para faturarem o título são de 4 para 1. Depois vem o Barça (6 para 1) e, logo atrás, o Liverpool, com odds a 6,5 para 1.

Data de validade

Com a perspectiva de saída da União Europeia, vai ser cada vez mais complicado para astros africanos e franceses como Aubameyang e Lacazette, por exemplo, estrelarem a Premier League

A parte chata de toda essa história é a que começa agora: até quando isso vai durar? Claro que rotatividade é uma coisa real e nada dura para sempre, o futebol não é exceção, mas pela primeira vez em 30 anos é possível dar nome aos bois prevendo os dias negros à frente.

Antes de mais nada, temos o Brexit – sim, é impossível escapar de política, de certa forma, queiramos ou não. O amanhã promete ser difícil, e o futebol certamente vai sentir o impacto. Mesmo sendo parte da União Europeia, o Reino Unido sempre operou em regime especial, o que inclui os contratos de trabalho, e isso afeta jogadores de futebol.

Se dentro da UE as coisas já não eram as mais simples de todas, uma saída certamente vai significar problemas não apenas para quem potencialmente viria jogar por lá, mas também para quem já está – afinal, uma saída do bloco sem acordo, como se desenha agora, afetaria não apenas contratos de trabalho, como praticamente “resetaria” todas as leis e deixaria todos no escuro.

Dentro apenas do microcosmo do futebol, já estamos vendo alguns times sofrendo pelas regras da UEFA, vide o Chelsea, que não pode contratar ninguém graças ao Fair Play financeiro, e também o Manchester City, que teve que se restringir seriamente para não ser punido.

Arsenal e Manchester United assustam cada vez menos gente, dentro e fora de campo, e Tottenham e Liverpool só chegaram tão longe porque souberam trabalhar com a base, com paciência e investindo de maneira cirúrgica. Eles ainda são os melhores e devem continuar por uma ou duas temporadas. Depois disso, ninguém se arrisca a prever.

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