Friday, November 1, 2024

Copa do Mundo 2018 – Rússia

O sorteio que determinou a formação dos grupos da primeira fase da Copa do Mundo da Rússia de 2018 abriu a temporada de análises e previsões sobre a disputa do torneio. O formato estabelecido pela Fifa (Federação Internacional de Futebol) para direcionar a sorte no sentido de formar chaves mais equilibradas acabou causando a frustração daqueles que buscam estabelecer logo de cara qual é a disputa mais dura. Os tradicionais ‘grupos da morte’ foram sepultados no Mundial russo.

Assim, o grupo formado pelos campeões mundiais Inglaterra, Uruguai e Itália, na Copa do Mundo do Brasil, em 2014, deve ser o último a receber esse apelido. A partir da Copa do Catar, em 2022, o número de participantes deve ampliado para 48 tornando praticamente impossível, dentro das regras atuais, a formação de uma chave como esta, que acabou sendo ainda mais surpreendente com a Costa Rica, que era a quarta integrante e considerada virtualmente eliminada, mandando mais cedo para casa ingleses e italianos.

Mundial de 2018 tem a menos interessante partida de abertura da história

O sorteio dos grupos para a vigésima primeira edição de uma Copa do Mundo também provocou a realização daquele que pode ser considerado o mais desinteressante jogo de abertura de um Mundial. Caberá a Rússia e Arábia Saudita fazer a bola rolar em 14 de junho. Com muito boa vontade, são duas seleções que podem ser classificadas na terceira prateleira do futebol. Elas foram inseridas no grupo A, que tem os donos da casa como cabeças de chave.

É comum, não apenas no futebol, as regras do sorteio de formações de grupos serem direcionadas para facilitar a vida do país sede. Porém, no Mundial russo, isso criou uma chave extremamente frágil tecnicamente, que tem ainda Egito e Uruguai.

Os uruguaios, com maior tradição por ter vencido duas vezes a Copa do Mundo em seus primórdios, são a principal força e favoritos para ficar com uma das vagas. Fizeram uma campanha regular nas eliminatórias sul-americanas e promovem uma significativa renovação em seu elenco, especialmente no meio-campo.

Os russos aparecem como maiores candidatos à segunda vaga. Menos por suas atuações nos amistosos preparatórios, que não são convincentes, mas pelo fator casa. Além do ‘décimo segundo’ jogador, nas arquibancadas, muitas vezes o país sede conta com a ajuda de um décimo terceiro auxiliar: o árbitro.

Isso dificulta um pouco a missão do Egito, que se não tem um futebol encantador mostrou o suficiente para que possa bater os russos. A Arábia Saudita, que desde a classificação para o Mundial mudou duas vezes de técnico, deve mesmo fazer três jogos e voltar para casa.

Franceses têm chance de ‘treinar’ na primeira fase

O Grupo B apresenta um brutal desequilíbrio de forças. Espanha e Portugal dificilmente deixarão de avançar para as oitavas de final. Devem apenas brigar pelo primeiro lugar. Marrocos e Irã não mostram qualquer capacidade de promover zebras.

No Grupo C, sequer se espera uma briga pela primeira posição. A França se destaca e será surpresa se não alcançar os nove pontos possíveis. Assim, a etapa será uma grande oportunidade de treinamento para o técnico Didier Deschamps. Na briga pelo segundo lugar, a Dinamarca leva leve vantagem diante de uma Austrália, envelhecida e sob nova direção, e do Peru, que não contará com seu mais importante atacante, Paolo Guerrero, suspenso por doping.

Brasil tem sorte, Argentina nem tanto

O Grupo D, que teve a Argentina como cabeça de chave, pode ser considerado o mais equilibrado da primeira fase. Conta ainda com a surpreendente Islândia, que fez boa campanha na Euro 2016; a tradicional Croácia e sua boa safra de meio-campistas; e a sempre perigosa Nigéria. Porém, tal equilíbrio se deve muito mais à insegurança em relação aos argentinos do que qualquer outra coisa. Depois de usar os serviços de três técnicos nas eliminatórias sul-americanas, a equipe só conseguiu se classificar na jornada final. As muitas mudanças de comando deram pouco tempo para Jorge Sampaolli, o técnico de plantão, tentar implantar suas ideias de jogo.

No grupo E, a seleção brasileira surge como favorita destacada. Suíça e Sérvia, com estilos bastante diferentes, devem brigar pelo segundo posto. A Costa Rica, que não foi capaz de empolgar nas eliminatórias, não poderá contar com um fator que a ajudou na Copa do Brasil 2014: o calor. Embora o Mundial de 2018 esteja marcado para o verão russo, as temperaturas nem de perto vão se aproximar da competição realizada no Brasil que permitiu aos costa-riquenhos, bem mais acostumados com essa condição, aproveitar do cansaço dos adversários, especialmente os europeus.

Alemanha joga contra mesmice e irregularidade

Atuais campeões mundiais, os Alemães ficaram no grupo F, que tem a Coreia do Sul como quarta força. A seleção germânica mostrou o suficiente nas eliminatórias, com o aproveitamento de 100%, melhor ataque e defesa sólida, para ser considerada ampla favorita ao primeiro lugar. Resta saber quem fica com o segundo posto. Os suecos, que utilizam um sistema baseado na defesa fechada e contra-ataques que não abre espaço para criatividade, e os mexicanos, capazes tanto de atuações de primeira linha como de protagonizar desastres, vão brigar por ele.

O Grupo G é bastante parecido com o B. Tem duas forças destacadas e duas seleções que devem fazer uma participação breve na Copa. Bélgica e Inglaterra são candidatos à disputa do primeiro lugar enquanto jogadores de Tunísia e Panamá talvez nem se deem ao trabalho de desarrumar as malas.

A chave H é a única que talvez possa receber a alcunha de “grupo da morte”. Não pelo grande equilíbrio entre as equipes, mas pelo futebol modorrento que habitualmente exibem Polônia, Senegal, Colômbia e Japão. Vai ser uma missão quase impossível assistir a esses jogos e evitar sentir falta de Holanda, Itália e Estados Unidos, ainda que essas equipes tenham sido eliminadas do Mundial de 2018 com absoluta justiça.

Primeira fase tem influência decisiva na artilharia

Lionel Messi (Argentina), Neymar (Brasil), Griezmann (França), Cristiano Ronaldo (Portugal), Gabriel Jesus (Brasil), Timo Werner (Alemanha), Romelu Lukaku (Bélgica), Harry Kane (Inglaterra), Alvaro Morata (Espanha), Sergio Aguero (Argentina), Edinson Cavani (Uruguai), Luis Suárez (Uruguai), Robert Lewandowski (Polônia). E a lista aumenta. É possível pesquisar, mas será difícil encontrar qualquer outra edição de mundiais que tivesse, ao menos antes da bola rolar, um número de candidatos tão grande e tão qualificado para ficar com a chuteira de ouro, conferida ao artilheiro da competição.

Em um pelotão com tanta qualidade técnica e com a expectativa de jogos centrados no sistema defensivo a partir das oitavas de final, que conta com partidas eliminatórias, há uma grande possibilidade, ao menos em teoria, de que a fase de grupos seja determinante nessa disputa. Ainda que não se deva esquecer que a prática inúmeras vezes contrariou até mesmo as melhores previsões.

Nesse cenário, Cristiano Ronaldo, Morata, Griezmann, Kane, Cavani, Suarez e Lukaku começam a briga com alguma vantagem. Lewandowski também teria esse benefício, mas esbarra na falta de ousadia do esquema tático polonês. Porém, até mesmo essa tese encontra em um possível obstáculo. Se essas seleções têm um caminho teoricamente mais fácil para classificação, isso pode fazer com que consigam a vaga já na segunda partida. Dessa forma, os treinadores poderiam usar reservas no jogo final tirando 90 minutos de oportunidade para que seus artilheiros balancem a rede dos rivais.

Russos oferecem situação similar ao Mundial de 1958

Em todas as edições da Copa do Mundo realizadas na Europa, uma seleção local ficou com a taça. A única exceção foi o Mundial de 1958 quando a Suécia, então país sede, teve que se contentar com o vice-campeonato assistindo o Brasil celebrar sua primeira conquista com uma geração que tinha como destaques Pelé e Garrincha. Para 2018, a situação se repete. Sem tradição de conquistas, os russos não podem ser considerados candidatos ao título, o que acaba oferecendo maior neutralidade à disputa.

Das seleções que já alcançaram um título mundial, apenas a Itália não estará presente. Brasil (cinco troféus), Alemanha (quatro), Uruguai (dois), Inglaterra (um) e Espanha (um) conseguiram a vaga sem maiores dificuldades. Do bloco dos campeões, somente a Argentina (duas conquistas) encontrou problemas para confirmar sua participação.

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